As subordinadas introduzidas pela conjunção integrante que são classificadas por Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 596/597 e 607/608) como orações subordinadas substantivas. Estas orações podem também ser construídas com o verbo no infinitivo, sem conjunção. Neste caso, e assumindo a sua gramaticalidade, as frases incluídas na pergunta terão a seguinte forma: «a interpretação do governo é a de as novas medidas não irem causar aumento da inflação»; «a explicação do ministro é a de os novos impostos serem necessários»; «a dedução do partido foi a de o projeto inviabilizar as próximas eleições.»
Dentro das subordinadas substantivas com o verbo em tempos finitos, os referidos gramáticos distinguem, entre outras, as subordinadas substantivas subjectivas (com a função de sujeito) das predicativas (com a função de predicativo do sujeito). As primeiras surgem depois de uma expressão impessoal como é certo, é verdade; ex.: «É verdade que as novas medidas não vão causar aumento da inflação.» O segundo tipo ocorre depois de uma sequência constituída por expressão nominal e o verbo ser. A expressão nominal é formada por um determinante, um nome, eventualmente seguidos de complemento, como a verdade ou a opinião do ministro; ex.: «A verdade/opinião do ministro é que as novas medidas não vão causar aumento da inflação.»1
Deste modo, à luz da análise de Cunha e Cintra, as orações iniciais («a interpretação do governo é»; «a explicação do ministro é»; «a dedução do partido foi») das frases apresentadas na pergunta não são o predicativo de ser mas sim o seu sujeito.
Contudo, João Peres e Telmo Móia (Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Lisboa: Editorial Caminho, pág. 125) consideram que, em frases do tipo em discussão, a segunda oração é também o sujeito, tal como acontece com as expressões é certo, é verdade:
«[existem estruturas] em que a oração finita funciona como sujeito, sendo, por isso, obrigatoriamente não preposicionada (o asterisco indica agramaticalidade):
(442) A única certeza que o Paulo Tinha era que o Luís o iria ajudar.
(443) *A única certeza que o Paulo tinha era de que o Luís o iria ajudar.»
Mais explicam estes linguistas (págs. 124/125) que a preposição é obrigatória, quando «[...] o nome que selecciona o argumento em causa não está realizado, sendo substituído por um elemento nulo adequadamente associado a um antecedente: Vejam-se exemplos:
(438) A única certeza que o Paulo Tinha era a [] de que o Luís o iria ajudar.
(439) *A única certeza que o Paulo tinha era a [] que o Luís o iria ajudar.»
Por conseguinte, nas frases apresentadas pelo consulente, só a terceira, a que inclui apenas de, deve ter as seguintes reformulações:
(i) «A dedução do partido foi que o projeto inviabilizará as próximas eleições.»
(ii) «A dedução do partido foi a de que o projeto inviabilizará as próximas eleições.»
Comparando (i) com (ii), vê-se que é aceitável a inserção a de.
Quando se inverte a posição da subordinada, deslocando-a para o início da frase, não é possível usar a de, porque esta expressão requer um antecedente (como «A interpretação do governo é a de…», «A explicação do ministro é a de…» e «A dedução do partido foi a de…»); ou seja, a de retoma, em cada frase, «A interpretação», «A explicação» e «A dedução». Não havendo termo antecedente, as expressões não são usadas.
Finalmente, quanto às frases indicadas na secção 3) da pergunta, trata-se, com efeito, de completivas nominais, porque são complemento de expressões nominais e, como tal, de é a preposição que as introduz, ligando-as aos substantivos interpretação, explicação e dedução.
1 Note-se que, nos exemplos da pergunta, os complementos nominais («do governo», «do ministro» e «do partido») ligam-se por preposição aos substantivos «a interpretação», «a explicação» e «a dedução»; sobre as particularidades destes complementos, ver op. cit., p. 141.