A questão que coloca implica problemas de dois tipos. Por um lado, porquanto, como outras conjunções, aparece associada tanto a coordenadas explicativas como a subordinadas causais; por outro lado, estamos perante uma construção pouco usual, uma vez que a oração introduzida pela conjunção tem o verbo no conjuntivo.
Começando pelo primeiro dos aspectos, se a conjunção pode introduzir tanto uma coordenada como uma subordinada, de que forma poderemos classificar a oração que ela introduz?
Um dos aspectos que costumam ser apontados como característicos da coordenação é o facto de a oração iniciada pela conjunção não poder ocorrer no início da sequência. Note-se, no entanto, que as subordinadas consecutivas apresentam o mesmo tipo de restrição que se justifica pela existência de elementos correlativos colocados na subordinante, como se verifica em «Fiquei tão preocupada, que saí sem me despedir».
Voltando à frase em apreço, como a posição ocupada pela oração conjuncional é em início de sequência, classificá-la-ia como subordinada causal.
Poderá perguntar-se se bastaria inverter a ordem para a mesma oração poder ser considerada coordenada explicativa. Importa referir que, para muitos estudiosos, a coordenação explicativa não existe, sendo todos os exemplos associados à subordinação causal. No entanto, continua a haver quem identifique características específicas em algumas frases que as aproximam mais da coordenação do que da subordinação. Os estudos que consultei não dão exemplos com a palavra porquanto, pelo que apresento um exemplo com porque:
(1) «O patrão está cá porque a luz está acesa.»
(2) *«Porque a luz está acesa o patrão está cá.»
O facto de (2) não constituir uma sequência gramatical mostra que, em (1), a relação não é de subordinação, mas sim de coordenação. E este aspecto responde à pergunta que coloquei: não basta, efectivamente, alterar a ordem para que a oração conjuncional possa ser considerada coordenada. É preciso que, simultaneamente, não produza uma estrutura gramatical quando ocorre em início de sequência, como acontece em (2).
Em relação ao segundo aspecto, gostaria de referir que a frase em apreço ilustra um tipo de construção causal pouco frequente no português, por ter o verbo no conjuntivo. Maria Helena Moura Neves, na Gramática de Usos do Português, São Paulo, UNESP, 2000, pág. 818, refere que o conjuntivo ocorre sobretudo com a conjunção como. Propõe, no entanto, uma interpretação para orações causais introduzidas por porque que tenham o verbo no conjuntivo, defendendo que veiculam uma ideia de causa possível. Creio que esta interpretação pode ser atribuída igualmente à frase que temos estado a analisar.