1) Maria Helena Mira Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, p. 712, referem que «a subordinada causal pode ser iniciada pelos seguintes conetores: porque, como, pois que, uma vez que, visto que, já que, dado que».
2) Se tivermos em conta que o stress se encontra tradicionalmente associado ao tipo de vida praticado nos países desenvolvidos, podendo ser parcialmente responsável, portanto, por doenças como a hipocondria,, julgo que será ajustado e aceitável considerar que se estabelece uma relação de causalidade entre as orações sugeridas pelo consulente. Atente-se:
- «Porque falamos de uma doença ligada ao stress, hoje, a hipocondria tornou-se a doença mais frequente nos países desenvolvidos»
ou
- «Por causa de ser uma doença ligada ao stress, hoje, a hipocondria tornou-se a doença mais frequente nos países desenvolvidos»
ou
-«Como falamos de uma doença ligada ao stress, hoje, a hipocondria tornou-se a doença mais frequente nos países desenvolvidos»
ou
- «Hoje, a hipocondria tornou-se a doença mais frequente nos países desenvolvidos, uma vez que falamos de uma doença ligada ao stress»
ou
- «Hoje, a hipocondria tornou-se a doença mais frequente nos países desenvolvidos, visto que falamos de uma doença ligada ao stress», ….
Assim, direi que a oração «já que falamos de uma doença ligada ao stress», neste contexto específico, é subordinada causal.
Finalmente, e pegando ainda nas palavras do consulente, julgo que valerá a pena dizer que não seria descabido entrevermos entre estas duas orações uma relação do tipo conclusivo, ou até mesmo consecutivo. Exemplos:
«Hoje, a hipocondria tornou-se a doença mais frequente nos países desenvolvidos, logo, falamos de uma doença ligada ao stress (...)»;
«Hoje, a hipocondria tornou-se a doença mais frequente nos países desenvolvidos, de forma que falamos de uma doença ligada ao stress (...)».
Porém, não creio que tal via de análise seja rigorosamente compatível com o espírito semântico que norteia tal enunciado, já que a ideia central que se pretende fazer passar, como vimos, é a de que o stress se encontra intimamente associado ao tipo de vida característico das sociedades desenvolvidas, e que, por isso, é potenciador (=causador) do desenvolvimento de doenças como a hipocondria.
Na verdade, se atentarmos bem no sentido da frase proposta, concluímos que o que o enunciador pretende efetivamente veicular não será tanto a ideia de que a hipocondria se encontra ligada ao stress em consequência do facto de ser a «doença mais frequente nos países desenvolvidos», mas, sim, a ideia de que a hipocondria, porque é uma doença ligada ao stress, se tornou na «doença mais frequente nos países desenvolvidos», partindo-se sempre, claro está, da premissa tácita basilar de que o stress é marca distintiva dos países desenvolvidos.