Da pesquisa que fizemos em vários dicionários, dos mais recentes aos mais antigos (Dicionário da Língua Portuguesa 2009, da Porto Editora; Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2004; Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001; Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001; Novo Aurélio, Dicionário da Língua Portuguesa Século XXI, 1999; Michaelis: Dicionário da Língua Portuguesa, 1998; Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, 1981; Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa, de António Morais e Silva, 1980; Grande Diccionario Portuguez, de Dr. Fr. Domingos Vieira, 1874) e em obras de referência sobre o vocabulário e a ortografia do português europeu (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, 1940; Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, 1947; Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, 1966; e, também, o recentíssimo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2009) não encontrámos qualquer registo do verbo sobreproteger, o que nos pode levar a concluir que tal termo, se não se encontra dicionarizado, não parece estar legitimado, dando o seu lugar a superproteger.
Pode parecer estranho, porque nos apercebemos de que se optou por formar uma palavra com o prefixo super-, que é precisamente o étimo (latino) de sobre — «sobre-, elemento de composição, do lat. super» (José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 4.ª ed., V, Lisboa, Livros Horizonte, 1987, p. 215), preferindo-se o «elemento de composição culta […], hoje muito em uso, em consequência da predilecção crescente que por ele se revela no estilo jornalístico e na linguagem propagandística da publicidade» (idem, p. 245). Talvez a opção pela composição com o prefixo super- se deva ao facto de este ter um sentido mais forte, pois «exprime a ideia de excesso» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2004, p. 1453) para além da de «superioridade» ou da de «posição superior» (idem, p. 1426), comum ao prefixo sobre-.
Por sua vez, tanto superproteger (super- + proteger), como superprotecção (super- + protecção) e superprotegido (super- + protegido) surgem em vários dicionários, tais como o Dicionário da Língua Portuguesa 2009 (da Porto Editora), o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2004), o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, (2001), o Novo Aurélio, Dicionário da Língua Portuguesa Século XXI (1999) e o Michaelis: Dicionário da Língua Portuguesa (1998).
Relativamente ao uso ou não do hífen em palavras formadas com o prefixo sobre-, Rebelo Gonçalves diz-nos que o prefixo sobre- é «seguido de hífen, quando o elemento imediato começa por h: sobre-humano. De contrário, [é] aglutinado ao elemento imediato, dando-se, quando este começa por r ou s, a duplicação de tais letras: sobreloja, sobreeminência, sobrenome, sobrepovoar, sobrepor, sobrerroda, sobressaturar» (Vocabulário da Língua Portuguesa, Coimbra, 1966, p. 949).
Por sua vez, Cunha e Cintra aconselham-nos o uso do hífen, quando o prefixo sobre é «seguido de radical principiado por h, r ou s: sobre-saia» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 67), enquanto para as palavras formadas com o prefixo super- nos propõem o uso do hífen, quando seguido de radical começado por h ou r: super-homem, super-revista» (idem).
Pode parecer estranha a divergência de critérios entre os gramáticos e linguistas, pois as suas propostas não coincidem: enquanto Rebelo Gonçalves indica a aglutinação para a grande maioria das palavras formadas com o prefixo sobre-, do que resulta a duplicação das consoantes s e r (como observamos em vocábulos como sobressair), Cunha e Cintra apontam a separação com hífen para esses casos, o que, mais uma vez, comprova que «o emprego do hífen é simples convenção» (idem, p. 66).
Se nos socorrermos do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1945 (ainda em vigor em Portugal), verificamos o seguinte: para os «compostos formados com os prefixos ante, entre e sobre, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h: ante-histórico; entre-hostil; sobre-humano; e para os «compostos formados com os prefixos hiper, inter e super, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h ou por um r que não se liga foneticamente ao r anterior: hiper-humano; inter-helénico, inter-resistente; super-homem, super-requintado».