Não nos foi possível identificar nenhuma obra que aborde concretamente o tema na génese da pergunta que a consulente nos apresenta. No entanto, pese embora a falta de fontes que sustentem a nossa argumentação, podemos admitir que estamos perante formas, digamos, de sabor arcaico que apresentam uma alternativa a locuções da índole de «acerca de», «a propósito de» ou «a respeito de».
Formalmente, estamos perante um sintagma preposicional – grupos de palavras introduzidos por uma preposição; nos exemplos postos à nossa consideração, as preposições do e da –, originariamente um complemento que, neste caso, possui autonomia estrutural e que encontramos frequentemente em títulos, tais como títulos de ensaios, como de resto a consulente refere, de tratados e/ou de obras literárias.
É um recurso que, estamos em crer, muitas línguas modernas, entre as quais o português, o espanhol e/ou o italiano, herdaram latim clássico e que corresponderá – inferindo semântica e textualmente o seu valor – ao complemento circunstancial de matéria latino. A este propósito, diz-nos António Freire (Gramática Latina, Braga, Livraria Apostolado da Imprensa, p. 199): «A matéria, sobre que versa um discurso, um escrito ou um pensamento, põe-se em ablativo¹ com de ou super; corresponde à expressão portuguesa "acerca de".» Um exemplo clássico é o comentário de Júlio César De Bello Gallico, ou Acerca da guerra gaulesa.
¹ Caso latino. Os casos latinos são as diferentes formas que os substantivos, os adjetivos e os pronomes adquirem consoante as suas funções sintáticas; o caso ablativo corresponde a muitos complementos circunstanciais, como o de matéria de que agora tratamos.