Começo por enunciar algumas funções que o morfema que pode desempenhar:
(1) Pronome relativo: «Já li o livro que me ofereceram.»
(2) Conjunção completiva: «Julgo que é um bom livro.»
(3) Determinante interrogativo: «Que livro te ofereceram a ti?»
(4) Pronome interrogativo: «Que compraste na feira do livro?»
(5) Conjunção explicativa: «Despacha-te a comprar, que está quase a esgotar!»
(6) Conjunção causal: «Não pude comprá-lo, dado que[1] está esgotado!»
(7) Conjunção temporal: «Venderam-se muitos livros, até que acabaram por esgotar!»
(8) Conjunção consecutiva: «Esse livro é tão bom, que já esgotou!»
(9) Conjunção comparativa: «Este livro é mais caro do que esse.»
(10) Partícula enfática: «Este livro é que já está autografado.»
(11) Partícula expletiva: «Quase que se ia esgotando, o livro!»
É nesta última função que se enquadra o morfema que das frases que o consulente apresenta: «até que nem é caro» e «até que me sinto bastante bem».
Este que é designado partícula expletiva, por ter um valor semântico vazio, podendo ser eliminado da frase, sem originar qualquer agramaticalidade:
(12) «Quase se ia esgotando, o livro!»
(13) «Até nem é caro, o livro.»
(14) «Até me sinto bastante bem!»
Por conseguinte, não se trata de um uso inadequado do morfema que, mas, sim, de uma das muitas funções que o mesmo pode desempenhar — partícula expletiva.
Disponha sempre!
[1] Nos casos (6), (7), (8) e (9), o morfema que forma com outras palavras uma locução. Segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, designam-se locuções conjuntivas. Trata-se de conjunções formadas da partícula que antecedida de advérbios e de preposições: desde que, antes que, já que, até que, etc.