A pronúncia do elemento A deste topónimo não é estável. No caso de A da Gorda (Óbidos)1, a que parece mais difundida e que se pode encarar como mais correta é com o a inicial fechado. No entanto, não é de excluir a possibilidade de tal elemento ocorrer como a aberto, como acontece com A dos Cunhados e A dos Francos, sem se tratar de erro inequívoco, por se tratar de uma pronúncia que já tem um uso enraizado e se explica historicamente (ver mais abaixo).
Para se entender a pronúncia do elemento toponímico a, deve ter-se em conta a explicação etimológica. Assim, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, referem-se os topónimos começados por «A de» do seguinte modo (mantém-se a ortografia original):
«frequente na toponímia port. (com a flexão A da.., A das..., A do..., A dos...), excepto, como julgo, no Norte. Creio que também não existe na Galiza. O pron. a, neste caso, representa propriedade, povoação, aldeia, vila, etc: A da Correia, A da Gorda, A das Mirandas, A das Pires, A de Flores, A do Geraldo, A do Alcaide, A do Almeida, A dos Cunhados, A dos Guerreiros, etc. A loc. em causa liga-se a um nome, um apel., uma designação familiar (ou um conjunto familiar), uma alc., uma profissão ou função, etc., em qualquer dos casos indicativo de proprietários ou de pessoa em evidência no local. Alguns dos topónimos iniciados por A de... são estudados na sua posição alfabética. Tratar-se-á de formação port. e, como me parece, moderna. Nada tem, portanto, com casos latinos do tipo Ad Ammomem (Tripolitânia), Ad Ansam (Grã-Bretanha), Ad Aquilonem (Itália, junto do rio Áquilo), Ad Calorem (Itália, junto do rio Cálor), Ad Maiores (Numídia), Ad Mercurium (Tingintânia), Ad Taum (Grã-Bretanha), Ad Teglanum (Itália), etc.»
Note-se que de um topónimo com a estrutura «A de...» se criou Damaia (Lisboa), que surgiu como variante de A da Maia (Machado, op. cit.; ver também Joaquim da Silveira, "Toponímia Portuguesa", Revista Lusitana, XXXII, pág. 264/265). Este processo de perda do a e de aglutinação da preposição ocorre com A da Gorda, que tem também uma variante, Dagorda.
Voltando à pronúncia da forma A da Gorda, considero que o a é um pronome com valor demonstrativo (a equivalente a aquela) , o qual se pronuncia com a fechado. No entanto, sugiro que a contração deste pronome com uma vogal precedente em contexto de frase, por exemplo, «vou à da Gorda» é suscetível de uma reanálise da sequência «à da Gorda» como o próprio topónimo, passando o a a ser aberto. A ortografia não dá conta desta variante aberta, atendo-se ao valor pronominal original. Esta evolução explicaria também os outros casos aqui mencionados, os de A dos Cunhados e A dos Francos, com a incial aberto.
1 Recomenda-se a grafia não hifenizada, de acordo com o registo de Rebelo Gonçalves no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), onde vários topónimos deste tipo, com o elemento «A de...», figuram igualmente sem hífen.