No poema O Infante da segunda parte, Mar Português, de Mensagem (Fernando Pessoa), o sujeito poético dirige-se a um tu, lembrando-lhe a sua marca distintiva de eleito, escolhido e elevado à imortalidade por Deus — «Sagrou-te, e foste desvendando a espuma» (1.ª estrofe), «Quem te sagrou criou-te português. / Do mar e nós em ti nos deu sinal» (3.ª estrofe).
Ora, este tu, português «que [foi] desvendando a espuma», é alguém que dedicou a sua vida a desvendar os mistérios desconhecidos do mar, reunindo à sua volta os investigadores e estudiosos que pudessem colaborar na descoberta dos novos mundos. Repare-se que o emprego do gerúndio «desvendando» evidencia, precisamente, um tempo que se prolongou no processo da preparação para as descobertas na Escola de Sagres, criada pelo Infante D. Henrique, o príncipe que se entregou ao sonho das descobertas marítimas.
É ele este tu (marca de proximidade do sujeito), elevado ao estatuto de herói, pelo seu contributo no engrandecimento do seu povo e como referência, como modelo de um ser superior que não desiste dos seus sonhos. Por isso, desde o início do poema, é hiperbolizado com a carga semântica da «sagração», campo lexical com que é marcado pelo sujeito poético.
Cf. “Mensagem”, de Fernando Pessoa, apresentada por Maria Regina Rocha