O Infante
«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.»
Orla branca é uma metáfora correspondente à espuma do mar que nos recorda a ornamentação das saias das ninfas, que, como disse Camões, protegem os Portugueses. A espuma e a brancura são símbolos de pureza e da presença do espírito divino.
A obra do Infante, que permitiu a descoberta de ilhas e de continentes, foi ordenada por Deus, como está expresso na primeira quadra, e pelas ninfas que acompanharam os nossos navegadores.
Há neste poema um misto de Cristianismo e de Paganismo Clássico como em Os Lusíadas.
Cf. “Mensagem”, de Fernando Pessoa, apresentada por Maria Regina Rocha