Os plurais dos diminutivos formados por substantivos terminados em r e pelos sufixos -zinho e -zito1 não têm forma estável, como mostra Paul Teyssier, no seu Manual da Língua Portuguesa (Coimbra Editora, 1989, pág.91), concebido para um público francês:
«-zito, -zinho (sufixos com z) conservam na palavra à qual se ligam a sua individualidade fonética e morfológica. [...] [O] plur[al] de coraçãozinho (de coração, "coeur") é coraçõezinhos; o de sinalzinho (de sinal "signe") é sinaizinhos; o de florzinha (de flor "fleur") é florezinhas (n. b. encontra-se no entanto florzinhas) [...].»
Nesta citação, vemos Teyssier assinalar duas variantes para o diminutivo de um nome terminado em-r: florezinhas, formado de acordo com as regras de associação do sufixo -zinho (e -zito), isto é, o nome modificado pelo sufixo mantém a desinência do plural sem o -s (cf. coraçõezinhos e sinaizinhos); e florzinhas que perde o e do plural.2
E. Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, 2002, pág. 128) também se refere a esta oscilação:
«A razão do emprego de forma plurais barzinhos, colherzinhas se prende ao fato de que com sufixos outros não ocorre o plural das duas unidades florinha —> florinhas.»
Quanto a mim, o argumento de Bechara não é válido, porque fica por explicar o mais importante: a razão por que se aceitam e até parecem mais correntes as formas florzinhas, barzinhos e colherzinhas, ao lado de florezinhas, barezinhos e colherezinhas, formados regularmente mas menos usados, enquanto *coraçãozinhos e *sinalzinhos são claramente inaceitáveis.
Proponho outra explicação. Dado que a vogal da flexão de plural do substantivo é descrita como epentética, verifica-se que esta vogal é pronunciada como átona, soando em português europeu (PE) como o chamado "é mudo" (símbolo fonético [ɨ]) e no português brasileiro (PB) como o i epentético de pneu na pronúncia mais corrente ("pineu"). Como a vogal é muito ténue nas duas variedades, elide-se, se estiver entre uma vibrante simples (o "r" de flor, bar, colher) e o [z] do sufixo, conforme o esquema:
flor[ɨ]zinhas (PE) / flor[i]zinhas (PB)> florzinhas
Em suma, o plural do diminutivo de actor deveria ser actorezinhos, assim como o de colar deveria ser colarezinhos (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 187). No entanto, o uso, mesmo escrito, está a impor as formas com elisão do "e": basta lembrar que o título do conhecido romance norte-americano Little Women é tradicionalmente traduzido em português por Mulherzinhas. Acrescente-se que, fora do Ciberdúvidas (ver Textos Relacionados), não encontrei pareceres normativos sobre esta questão.
1 Em propostas recentes de análise gramatical, estes sufixos são chamados «sufixos z-avaliativos» para se distinguirem de -inho, -ito, simplesmente denominados «sufixos avaliativos».
2 Alina Villalva, na Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003, pág. 922), analisa as palavras terminadas no singular em -r, s, -z e -l do ponto de vista morfológico e agrupa-as na mesma classe temática (formas de tema ø). O plural desta classe recorre não só à adjunção do sufixo -s, mas também à introdução de uma vogal epentética: colar > colares; país > países; cabaz > cabazes; pedal > pedais. Note-se que os sufixos -zinho e -zito não são compatíveis com os substantivos terminados em -s e -z: paisinhos/*paisezinhos; rapazinhos/*rapazezinhos.