De facto, sempre que nos confrontamos com enunciados como, por exemplo, «A água não pára de chorar» (“Dentro da Noite” in Manuel Bandeira, Obras Poéticas, Livraria Bertrand, Lisboa, 1956, p. 64) —, não temos dúvidas de que nos encontramos perante um caso óbvio de personificação, «a figura de retórica que consiste em atribuir qualidades, comportamentos, atitudes e impulsos humanos a coisas ou seres inanimados e a animais irracionais» (E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia (org.).
Mas em todas as outras situações discursivas em que se verifique a fusão de duas realidades, estando implícita uma associação entre elas (sem a presença do termo explícito de comparação), é a metáfora que está presente. No exemplo apresentado pelo consulente — «O Luís voava sobre a cidade» —, coloca-se o «Luís», como sujeito, a «voar», assemelhando-o aos pássaros e aos aviões (decerto porque se encontra no ar — num avião, num pára-quedas…), atribuindo-lhe uma propriedade que é própria das aves e da aeronáutica.