O artigo em topónimos estrangeiros
Há topônimos que pedem artigo definido (o Rio de Janeiro, a Bahia, o Alentejo, o Brasil) e outros que o dispensam (Luanda, Coimbra, Minas Gerais, Cabo Verde). Ao consultar respostas anteriores do Ciberdúvidas, aprendi que não há normas rígidas sobre a colocação ou omissão do artigo, em tais casos. O que sim, deve ser observado, são os hábitos idiomáticos das comunidades enraizadas em seus respectivos países, regiões ou cidades (e mesmo bairros). São elas que irão determinar, pela tradição, se determinado topônimo deve ou não ser "articulado".
Por outro lado, ocorre-me a pergunta: como lidar com topônimos de terras "estrangeiras", ou seja, aquelas que não foram afetadas pelas idiossincrasias vernaculares das comunidades lusófonas? A respeito delas, tomo nota da seguinte curiosidade: leva artigo a grande maioria dos topônimos que se referem a países (a França, o Uruguai, a Rússia, a Síria), o mesmo não sucedendo quando se trata de nomes de cidades (Paris, Montevidéu, Moscou/Moscovo, Damasco). A única cidade estrangeira "articulada" que me ocorre é a capital do Egito (diz-se "estive no Cairo", e não "em Cairo"). Outras há que vivem na ambigüidade (Haia/a Haia). E o único país "desarticulado" seria Sri Lanka – talvez por se tratar de topônimo de recente introdução no atlas, em substituição ao tradicional Ceilão.
A que se deve esse fenômeno? Poderíamos especular que a "articulação" dos nomes dos países estrangeiros terá sua origem na elipse. Por exemplo: quando dizemos "a França", queremos dizer "a (república da) França". No mesmo diapasão, "a Inglaterra" é "a (monarquia da) Inglaterra". Essa linha de suposição, contudo, não me parece muito convicente.
E que dizer da "desarticulação" dos nomes das cidades? Por que vamos a Paris, e nunca à Paris (a não ser que seja àquela específica Paris dos meus sonhos, devidamente objetivada)? Note-se que mesmo alguns nomes que no original levam artigo (La Habana), perdem esse apêndice quando vertidos para o português (Havana).
Fica a pergunta no ar, na esperança de que o Ciberdúvidas ofereça alguma resposta.
