Existe, mas deve preferir-se nazareu, como designação de uma antiga seita hebraica anterior ao cristianismo. Nazireu encontra-se registado na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (GEPB), assim definido:
«Hebreu que se consagrava ao sacerdócio, conquanto não fosse da tribo de Levi. Hebreu que fazia o voto de não cortar o cabelo nem beber vinho. (Corrup[ção] de nazareu).»
É, no entanto, curioso verificar que da mesma enciclopédia não consta a entrada nazareu mas, sim, nazaréu, que é definida como «o mesmo que nazareno», que vem «do hebr[aico] nazir, consagrado, pelo lat[im] nazaraeu». No verbete de nazareno, damo-nos conta de que existe alguma confusão entre este termo, que significa «relativo ou pertencente a Nazaré [na Palestina]» e «relativo aos Cristãos», e nazaréu ou naziréu, nome sobre o qual se diz:
«no Antigo Testamento, é dado [...] a personagens como Sansão, Samuel, etc.; essa palavra significa "separado, isolado" e servia para designar não um cidadão de Nazaré mas, sim, um homem votado especialmente ao serviço de Deus. Não está plenamente explicado em que sentido os profetas chamaram nazaréu ou nazireu ao Cristo futuro. O evangelista S. Mateus, registando o regresso de Jesus a Nazaré, vê nisso o cumprimento de profecias. Foram também chamados nazarenos ou nazareus uns grupos religiosos que, nos primeiros tempos do Cristianismo, pretendiam aliar as práticas cristãs e as mosaicas.»
Esta fonte acolhe ainda a forma nazarita, «pessoa de raça judaica que se dedicava ao serviço de Jeová, e professava a abstinência, pureza absoluta de vida e devoção. (Do hebraico nazir, consagrado)».
Por esta passagem se vê que na fonte consultada há grande inconsistência na grafia e na morfologia do termo: nazireu, naziréu, nazareu, nazaréu, nazareno e nazarita. De qualquer modo, a informação etimológica é confirmada noutras fontes. Por exemplo, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, que, no entanto, apresenta "nezir" em lugar de nazir, certamente por engano: quando consultamos o dicionário da Real Academia Espanhola, nāzir é a forma do étimo hebraico, praticamente igual (falta o mácron) à encontrada na GEPB.
Voltando à identificação da forma mais adequada do termo em questão, a consulta do Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, revela a entrada nazareu, explicitamente descrita como designação de uma seita hebraica («designação da antiga seita hebreia»). Também se incluem as entradas nazareno, nazerino e nazarita, sem comentários, bem como nazáreo, assinalado como sinónimo de nazareno. Repare-se que não se inventaria a forma nazireu. Por conseguinte, tendo em conta a importância da obra de Rebelo Gonçalves em matéria de fixação ortográfica e fónica de palavras em português, recomendo o uso de nazareu, embora sejam de admitir as variantes nazireu, nazarita, nazareno e nazerino. As formas com acento, nazaréu e naziréu, não são aceitáveis, visto palavras cuja etimologia foi mediada por termos latinos terminados em -aeu- não apresentarem acento agudo: hebreu < hebraeu-, caldeu < chaldaeu-, nazareu < nazaraeu-.