Com a expressão «uma estrada de lume pelas águas», o sujeito de enunciação faz a fusão de duas realidades — a do sol e a da estrada de lume — que se assemelham (sol = fogo), sem colocar o termo de ligação/comparação como (a luz do sol, os raios reflectiam-se nas águas como se fossem uma estrada de lume), recriando as tonalidades das cores fortes do fogo (vermelho, cor de laranja e amarelo) que se espalham sobre as águas, tomando as formas de uma estrada. Trata-se, portanto, de uma metáfora que aqui sobressai como figura mais evidente, deixando no leitor a imagem da luz e do calor que contrastam com água. Poder-se-ia dizer, por isso, que nessa frase se insinua, também, a presença da sinestesia, uma vez que a esta imagem se associam percepções sensoriais (tal como a impressão visual das cores e do misto de sensações de calor — do lume — e de frio — das águas), acentuando a intensidade das cores projectadas em contraste com o azul da água.
Apesar de poder parecer uma descrição exagerada de uma determinada paisagem, a realidade é que com esta frase conseguimos visualizar (e até sentir) a imagem que o enunciador nos apresenta. Por isso, não é um caso de hipérbole.