Tem razão o consulente no que diz, e, portanto, agradece-se o seu cuidado, que levou a retirar a sequência citada da resposta em causa.
Mesmo assim, convém observar que, como se pode ler em "A preposição malgrado", os dicionários atualizados não parecem claros quanto às formas malgrado e «mau grado».
A forma malgrado é atualmente classificada como nome e preposição, de acordo com as fontes que o consulente, aliás, refere: a Infopédia e o Dicionário Priberam. No dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (ACL) também se regista a mesma forma como nome e preposição. Contudo, ainda no dicionário da ACL, a entrada de grado compreende a subentrada «mau grado», classificada como locução prepositiva – ou seja, funcionalmente equivalente a "malgrado".
Acrescente-se que no Priberam se indica que a atual forma malgrado se grafava mal-grado no quadro do acordo de 1945, o que se confirma pela consulta do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (1940) da ACL e do Vocabulário da Língua Portuguesa (1966) de Rebelo Gonçalves. Seria, portanto, pela aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 que mal-grado passa a malgrado, alteração que parece justificada pelo apartado 4 da Base XV. Acontece, porém, que a forma mal-grado deveria também escrever-se malgrado já antes, no contexto do acordo 1945, atendendo ao exposto na Base XXIX.
Mas não é isso que se verifica nos registos de 1940 e 1966, onde se apresenta mal-grado. A razão para os registos de 1940 e 1966 exibirem uma forma hifenizada poderá ser esta: o elemento mal em mal-grado/malgrado não é advérbio, mas, sim, o arcaísmo mal, variante de mau, adjetivo que modifica grado, que é nome. Por outras palavras: mal-grado era ou é variante de «mau grado», o que não quer dizer que se considerasse que as duas formas funcionavam de modo igual. Com efeito, Rebelo Gonçalves classifica mal-grado como nome e «mau grado» (s.v. grado) como locução prepositiva.
Apesar de tudo, atualmente, é correto empregar a forma malgrado como preposição – e continua a aceitar-se também «mau grado» como locução prepositiva. Há, no entanto, aspetos históricos a ter em conta no uso destes compostos, que revelam ainda certas oscilações no seu registo dicionarístico.