Hernâni Cidade, na sua obra Luís de Camões, o Épico, explica-nos a origem da palavra Lusíadas, escolhida por Camões para o título da sua epopeia, palavra essa que não é da sua autoria, mas de um dos maiores humanistas portugueses, André de Resende, seu contemporâneo, que escreve toda a sua obra em latim, de acordo com a corrente europeia da literatura neolatina.
André de Resende usa o vocábulo lusíada em vários textos – Vicentius Levita et Marty (publicado em 1545), Erasmi Encomion e numa epístola dirigida ao poeta Pedro Sanches (provavelmente de 1561) – e «como de sua invenção a reivindica, indicando o processo: «A Luso unde Lusitânia dicta est, Lusíadas adpellavimus Lusitanos et a Lysa Lysiadas, sicut a Aanea Aeneadas dixit Virgilliis» («De Luso, origem do termo Lusitânia, criámos o apelativo Lusitanos, e de Lysa, Lysiadas, assim como de Eneas, Eneadas.»).
Tratando-se de uma palavra construída por imitação à língua latina, é natural que seja um latinismo. Não podemos esquecer-nos de que Camões é um poeta do Renascimento, movimento estético-literário que privilegiou as línguas e as literaturas clássicas (greco-latinas). Portanto, é com orgulho que usa o termo Lusíadas, como marca de uma cultura superior, evidenciando a sua intenção de escolher criteriosamente a sua linguagem e o seu estilo – do domínio da erudição – para melhor representar a acção épica. O cultismo sobressai, aqui, precisamente pela utilização de palavras e estruturas requintadas, recursos que procuram igualar a forma ao conteúdo grandioso da épica.
No entanto, é importante lembrar que o termo cultismo (ou culteranismo) designa também uma «tendência típica da literatura barroca» que se destaca pelo uso e abuso de recursos estilísticos (metáforas, hipérboles, jogos de palavras), representando a sobrecarga ornamental da arte plástica da mesma época.