Gostaria, antes de mais, de referir, como já fiz outras vezes, que as definições aqui apresentadas não têm em conta metodologias e quadros teóricos específicos, pelo que poderão conter incorrecções, num quadro teórico específico.
Linguagem é, genericamente, e falando apenas da linguagem humana, a capacidade de comunicar em sociedade através de sistemas de símbolos ou signos que permitem expressar e comunicar ideias e sentimentos. Na linguagem verbal, o sistema de símbolos utilizado para comunicar é constituído por segmentos sonoros com sentido, cuja materialização mais generalizada são as palavras. Estas agrupam-se segundo um conjunto de regras que podem ser universais ou específicas de um determinado grupo social, permitindo distingui-lo de outros. Cada grupo social expressa-se sempre por meio de uma língua particular cujas regras, ou gramática, domina. Podemos, assim, dizer que a linguagem verbal, universal porque comum a todas as comunidades humanas, se materializa através de línguas particulares.
Segundo Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 1999, 37.ª edição, revista e aumentada, são dimensões universais da linguagem:
Criatividade – permite a cada falante produzir enunciados correctos nunca antes produzidos e compreender enunciados nunca antes ouvidos.
Materialidade – é condicionada fisiológica e psiquicamente, pois o falante dispõe de um sistema articulatório que lhe permite emitir sons e de um sistema auditivo através do qual ouve o que é dito. Se utilizar a forma escrita, precisará de agilidade para escrever e de capacidade visual, tanto para escrever como para ler.
Semanticidade – Os enunciados produzidos ou recebidos são portadores de sentido que o falante descodifica.
Alteridade – Cada falante é ouvinte na intercomunicação social que estabelece.
Historicidade – A linguagem concretiza-se em línguas particulares, e estas têm um percurso e uma evolução histórica que as individualiza.
Um dialecto é uma forma de falar que, por muitas das suas características, se insere numa determinada língua, mas que por outras se individualiza. As características que lhe permitem individualizar-se são associadas a um grupo social mais restrito, equivalendo a uma dada região, por exemplo. No entanto, prevalecem as características que, do ponto de vista histórico e evolutivo, identificam aquele grupo social e o inserem no grupo mais vasto da língua a que pertence. Quando os traços que individualizam uma forma de falar dentro de uma língua mais vasta correspondem a um país diferente, não se fala de dialectos, mas de variantes da língua.
Língua nacional pode equivaler a língua oficial, ou seja, a língua que um país, normalmente multilingue, adopta como forma de comunicação oficial e como veículo de escolarização.
Não sei exactamente o que pretende dizer com língua comum. Talvez se refira ao conceito de pidgin, definido no Dicionário de Termos Linguísticos, da Associação Portuguesa de Linguística e do Instituto de Linguística Teórica e Computacional como «Sistema de comunicação linguística que emerge de contextos multilingues caracterizado por não ter falantes nativos». Esta definição aproxima pidgin de língua franca: «Uma língua de que se servem os falantes de uma comunidade para poderem comunicar entre si.» Corresponde a um estádio prévio da criação de um crioulo definido, ainda no mesmo dicionário, como «Língua formada pela expansão e complexificação de um pidgin e que se torna a primeira língua de uma comunidade».
Quanto às especificidades da linguagem verbal, de uma forma muito simplista, para além das características universais apontadas atrás, e assumindo que o que pretende é saber as características de uma língua particular, através da qual se materializa a linguagem verbal, poderemos dizer que cada língua tem uma gramática, ou seja, um conjunto de regras que a individualizam e que podemos subdividir em quatro grandes grupos:
Fonética e fonologia – conjunto de sons organizados de determinada forma, de modo a constituírem sentido.
Morfologia – conjunto de palavras (nível superior ao dos sons) de uma língua agrupadas por classes, que se individualizam, entre outros aspectos, pelo tipo de flexão.
Léxico – conjunto de regras que permite formar novas palavras, renovando a língua. É a área mais activa e mais perceptível, isto é, face à qual os falantes reagem de forma mais espontânea.
Sintaxe – conjunto de regras que permite que as palavras se relacionem entre si, obedecendo às suas características lexicais e produzindo frases e enunciados, ponto de partida para a produção de textos.
A estas quatro áreas acrescentaria a semântica, que analisa os sentidos inerentes a cada palavra, frase ou mesmo texto, e a pragmática, que estuda a interacção verbal em contexto.
Para além da bibliografia que indiquei no corpo do artigo, encontra informação que lhe interessa nas seguintes obras:
Enciclopédia Enaudi, vol. 2, linguagem e comunicação, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1984;
Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, Edições Sá da Costa;
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, organizado por Isabel Hub Faria e outros, Lisboa, Caminho, 1996;
A Face Exposta da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2002.