O infinitivo precedido da preposição a e com valor descritivo (infinitivo de narração; ver Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, pág. 483) pode não concordar com a expressão nominal a que se refere:
«Meus criados e vassalos
Por essa torre a dormir
Nem de nosso anor suspeitam,
nem o podem descobrir.»
(Almeida Garrett, ibidem)
Vemos nestes versos de Garrett o partido que se tirou da possibilidade de não haver concordância («a dormir», em vez de «a dormirem»), justamente para permitir a rima.
Mas, sublinhe-se, o emprego do infinitivo flexionado com intenção descritiva é perfeitamente gramatical, como, aliás, Evanildo Bechara o atesta (Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, pág. 284), ao tratar daquilo a que ele chama "infinitivo histórico ou de narração":
«E os médicos a insistirem que saísse de Lisboa» (Júlio Dinis)
Agradecemos as palavras finais.