O constituinte «quantas pessoas vêm» é uma oração subordinada completiva, que surge como argumento de um dos núcleos lexicais da frase superior. Assim, neste caso, o núcleo da oração superior que seleciona a completiva é o verbo imaginar, sendo que a supressão do constituinte (oração subordinada completiva) «quantas pessoas vêm» determina necessariamente a agramaticalidade da frase:
«*Não consigo imaginar» (o asterisco significa agramaticalidade)
Aliás, a aplicação de testes de constituência mostra justamente que a oração em análise se constitui como uma unidade sintática da frase superior, já que, independentemente da função sintática que desempenha na oração subordinante, ela pode ser sempre substituída, por exemplo, por um pronome demonstrativo invariável:1
«Não consigo imaginar isso [isto é, quantas pessoas vêm/o número de pessoas que vêm].»
Refira-se igualmente que, neste caso concreto, se trata de uma oração subordinada completiva com relação gramatical de objeto direto, como o comprova a sua substituição pelo pronome demonstrativo átono invariável o:
«Não o consigo imaginar», sendo que o substitui, naturalmente, «quantas pessoas vêm».
Provavelmente, se a estrutura proposta fosse, por exemplo, «Não consigo saber quantas pessoas vêm»/«Não sei quantas pessoas vêm»/«Não sei o número de pessoas que vem» (=«Não o sei»/«Não sei isso»), talvez mais facilmente vislumbrássemos a natureza completiva desta oração.
Finalmente, tendo em conta que, na frase em discussão, detetamos a presença do determinante interrogativo quantas (DT, DOMÍNIO B.3: CLASSES DE PALAVRAS; esta resposta de Carlos Rocha), que introduz a oração subordinada completiva, podemos ainda tornar mais fina a nossa análise e subcategorizar a oração em apreço, enquadrando-a nas orações subordinadas completivas interrogativas indiretas (veja-se estas respostas de Edite Prada e de Eunice Marta).
Para um melhor entendimento das especificidades das orações relativas sem antecedente expresso, ou «relativas livres» (Maria Helena Mira Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, p. 675), aconselho a leitura atenta do item sugerido no final desta resposta. Não deixo, contudo, de aqui listar alguns exemplos de orações desse tipo, que permitem desde logo, creio, percecionar claras diferenças relativamente ao exemplo que teve a amabilidade de nos trazer aqui ao consultório:
«[Quem vai ao mar] perde o lugar.»
«Recebi [quem tu recomendaste].»
«Dei [a quem precisava mais].»
«O Luís procura [quem o ajude na escola]»
«O Pedro pede dinheiro a [quem tiver].»
«O avô precisa de [quem cuide dele].»
«Ela compra roupa [onde calha].»
(exemplos retirados de Mateus e outros, pp. 675-676, e DT.)
1 Maria Helena Mira Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, pp. 595-596.