Na frase «Vamos lá experimentar isso» sobressai a ideia de que o emissor se dirige a outro(s), em tom de conselho ou de pedido, em que se depreende o tom decisivo, tomando a iniciativa de o(s) levar a fazer algo (incluindo-se nessa ação). Ora, segundo o Dicionário Terminológico, toda a «frase que corresponde à expressão de uma ordem ou pedido do falante e tem o verbo no modo imperativo, conjuntivo, indicativo ou em formas do gerúndio ou infinitivo» é uma frase imperativa. Assim, «de um ponto de vista pragmático, são consideradas imperativas todas as frases que expressam um ato ilocutório diretivo, ou seja, aquelas com que, através do enunciado, o locutor visa obter num futuro imediato a execução de uma determina da ação ou atividade por parte do ouvinte, ou de alguém a quem o ouvinte transmita o ato diretivo. Prototipicamente as imperativas são a expressão de uma ordem. Contudo, são igualmente incluídas nesta classe frases que, embora exibam traços formais das imperativas, apresentam valores diversos como: pedido, exortação, conselho, instrução» (Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, pp. 449).
De facto, uma das marcas desse tipo de frase é que «nas frases imperativas o sujeito designa preferencialmente o ouvinte [e] nas imperativas diretas pode igualmente englobar o locutor, ocorrendo então o verbo na primeira pessoa do plural» (idem, pp. 456-457). Para além disso, tal como acontece na frase apresentada, «o sujeito nas imperativas não está usualmente expresso» (idem, p. 457).
Por outro lado, se tivermos em conta o modo da forma verbal «Vamos», é lícito afirmarmos que se encontra no modo conjuntivo (presente do conjuntivo1), o que acresce à justificação da frase como imperativa.
Um outro aspeto a considerar para a classificação desta frase, se se colocar a hipótese de se poder tratar de uma frase declarativa2, é o facto de a frase declarativa «se caracterizar pela ausência dos traços específicos dos outros tipos de frase (interrogativas, exclamativas e imperativas)» (idem). Ora, isso não se passa com a frase em questão, porque o enunciado «Vamos lá experimentar isso» tem traços específicos da frase imperativa, o que põe em causa a presença de declarativa.
Para além disso, para que a frase em análise pudesse ser classificada igualmente como uma declarativa, teria de ser «uma instrução para veicular uma informação desconhecida do interlocutor» (idem, p. 450), caso que se pode verificar no seguinte exemplo: «(Queres saber onde fica a escola?) Segue sempre em frente e viras à direita no primeiro cruzamento.» Ora, em «Vamos lá experimentar isso» não ocorre nenhuma instrução, mas somente um conselho ou pedido.
1 Esta forma verbal «Vamos» (1.ª pessoa do plural do presente do conjuntivo) coincide com a mesma forma do presente do indicativo: Nós hoje vamos ao cinema.
2 Se o sujeito estivesse expresso, o que implicaria que o verbo estivesse precedido pelo sujeito, não haveria dúvida de que se trataria de uma frase declarativa: «Nós vamos lá experimentar isso», pois tratar-se-ia de uma «frase em que é feita uma asserção e que se pode caracterizar pela ausência dos traços específicos dos outros tipos de frase (ver frases interrogativas, exclamativas e imperativas).» (idem). Para além disso, neste tipo de frase está prevista a alteração da ordem dos constituintes, parecendo deduzir-se a presença do sujeito expresso: «As declarativas classificam-se também segundo a ordem dos seus constituintes, sendo (i) uma declarativa não marcada e (ii) uma declarativa marcada. A alteração de ordem é, frequentemente, utilizada em contextos discursivos específicos, como a ênfase num determinado constituinte. Exemplos:
(i) O João comeu o bolo.
(ii) O bolo, o João comeu(-o).»