História de uma plenitude, este canto diz-se no presente, com remissões para o encontro amoroso que, ofuscando-o com tanta luz, o deixou em desassossego. A figura da antítese governa a evocação, não só nos tempos verbais, mas, ainda, nos universos tão contrários que povoam o sujeito: vida e morte, sonho e despertar, inferno e paz, não lembrar e lembrar, etc. A relação dual tanto semelha um diálogo consigo como com voz de fora, mas causadora desse «inferno». Veja-se, depois, o processo de constituição da vida, identificada ao inevitável inferno (o inferno do amor é uma ideia já na poesia do séc. XV), em que o amor se transforma: explica-se a chama pela força de tanta luz, de facto, e conhecida a biografia de Garrett, marcando a presença da Viscondessa da Luz, amante do poeta e omnipresente na sua lírica terminal. Em exclamações e interrogações retóricas, numa ênfase reticente, procura-se, ainda, atenuar uma sombra de pecado que seria conatural a esta experiência, dilacerante, de se amar a prazo.