No Brasil, têm a mesma forma dois topónimos diferentes:
a) um bairro da cidade de São Paulo que é conhecido como «o Jaçanã» («o bairro do Jaçanã»): «Museu do Jaçanã»;
b) no estado do Rio Grande do Norte, uma localidade cujo nome se usa sem artigo definido: «Prefeitura municipal de Jaçanã».
Não pude saber como se explica o caso em b), o qual suscita alguma surpresa, quando se pensa que Jaçanã talvez tenha origem num nome comum concreto, jaçanã, «ave caradriiforme, paludícola, da fam. dos jacanídeos (Jacana jacana), com ampla distribuição na América tropical cisandina» (Dicionário Houaiss), facto que legitimaria o uso do artigo definido. Contudo, no caso do bairro do Jaçanã referido em a), o nome ocorre como esperado: «o Jaçanã», logo, «moro no Jaçanã» – basta confirmar em jornais como a Folha de S. Paulo ou O Estado de S. Paulo, que escrevem sistematicamente «o Jaçanã», quando o topónimo é mencionado num enunciado completo. Este aspeto leva, portanto, a encarar como não aceitável ou estranha uma frase «moro em Jaçanã», não obstante ser ela bem audível na popular canção Trem das Onze (1964), de Adoniran Barbosa (1910-1982). Sobre tal particularidade, assinale-se (e ouça-se) o que Pasquale Cipro Neto propõe, numa conversa transmitida pela Rádio Globo (Brasil): «em Jaçanã» pode ser idiossincrasia do português falado por Adoniran Barbosa, de seu verdadeiro nome João Rubinato, nascido no seio da grande comunidade italiana de São Paulo.