De facto, o consulente tem razão, quando classifica os pronomes pessoais eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles e elas, quando sujeito, de pronomes rectos,que se distinguem dos oblíquos, que são os que têm a função de objecto (directo ou indirecto).
Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo) elucidam-nos sobre essa questão, a da formas dos pronomes pessoais, dizendo: «Quanto à função, as formas do pronomes pessoal podem ser RECTAS ou OBLÍQUAS. RECTAS, quando funcionam como sujeito da oração; OBLÍQUAS, quando nela se empregam fundamentalmente como objecto (directo ou indirecto).» (p. 279)
Estes linguistas subdividem ainda os pronomes pessoais oblíquos, tendo em conta a acentuação, em que se distinguem as formas tónicas das átonas.
E, para evitar que tenhamos dúvidas, apresentam-nos um quadro «que mostra claramente a correspondência entre essas formas» (idem):
Pronomes pessoais rectos | Pronomes pessoais oblíquos não reflexivos Átonos Tónicos
|
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singular 1.ª pessoa 2.ª pessoa 3.ª pessoa |
eu
tu ele,ela |
me mim, comigo te ti, contigo o, a, lhe ele, ela |
plural 1.ª pessoa 2.ª pessoa 3.ª pessoa |
nós
vós eles, elas |
nos nós, connosco vos vós, convosco os, as, lhes eles, elas |
Cunha e Cintra desenvolvem ainda a questão sobre emprego dos pronomes rectos, alertando-nos para as suas funções. Dizem-nos:
1. «Os PRONOMES RECTOS empregam-se como:
a) SUJEITO:
Eu era a desdenhosa, a indiferente. (Florbela Espanca, S, 55)[…]
Se és tu, meu pai, eu vou contigo… (Alphonsus de Guimaraens, OC, 58)
b) PREDICATIVO DO SUJEITO:
Trata-se do seguinte: eu não sou mais eu! Revoguei-me a mim mesmo. (Aníbal M. Machado, CJ, 150)
Meu Deus!, quando serei tu? (José Régio, ED, 157)
2. Tu e vós podem ser VOCATIVOS:
Ó tu, Senhor Jesus, o Misericordioso,
De quem o Amor sublime enaltece o Universo… (Alphonsus de Guimaraens, OC, 313)
Ó vós, que, no silêncio e no recolhimento
Do campo, conversais a sós, quando anoitece… (Olavo Bilac, P, 158)
Observação: Na linguagem popular ou popularizante de Portugal aparece por vezes um pronome ele expletivo, que funciona como sujeito gramatical de um
verbo impessoal, à semelhança do francês il (il y a):
— Ele haveria no mundo nada mais acertado. (Miguel Torga, CM, 24) […]
Os raríssimos exemplos que dele se colhem em escritores brasileiros, como este de Machado de Assis, representam simples imitação da construção portuguesa:
Que ele também há eleições no Amazonas; é o tempo da salga política, a quadra das barracas e dos regatões. (Machado de Assis, OC, 698)»1
Como se pode ver através das lições dos gramáticos, o pronome pessoal recto exerce sempre funções de sujeito ou ligadas ao sujeito (predicativo do sujeito ou vocativo), podendo surgir, por vezes, como pronome ele expletivo, funcionando como sujeito gramatical.
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Muito obrigada.
1 Manteve-se o negro. O itálico do original ficou também a negro.