DÚVIDAS

«Fácil entender» e «fácil de entender»

Em primeiro lugar quero dar os parabéns pelo excelente serviço prestado em prol da língua portuguesa.

Consulto este site frequentemente, mas é a primeira vez que vos coloco uma questão. Este assunto já foi tratado anteriormente no Ciberdúvidas, mas a resposta não me esclareceu a 100%. Assim sendo, gostaria que atentassem a estas duas frases retiradas da letra de uma música. A utilização de «de» está correcta?

A música intitula-se «Fácil de Entender». O «de» está correcto no título?

«Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.»

«É o amor que chega ao fim. Um final assim, assim é mais fácil de entender...»

Muito obrigado!

Resposta

Há uma maneira muito prática de prever o emprego de de. Se a expressão «é fácil» tem sujeito, isto é, se é precedida de uma expressão nominal (p. ex., «este livro»), então usa-se a preposição de:

(1) Este livro é fácil de ler.

Se a expressão «é fácil» não é antecedida de sujeito, isto é, se uma frase começa simplesmente por «é fácil» seguido de infinitivo, suprime-se a preposição:

(2) É fácil ler este livro.

Há, é claro, uma outra explicação, mais técnica. A opção de escolher entre a presença ou não da preposição de na construção «é fácil» depende da posição que a expressão modificada pelo adjectivo fácil ocupa na frase. Quando a expressão que desempenha o papel de complemento directo da construção infinitiva passa a desempenhar o papel de sujeito sintáctico da construção «é fácil» (devido a elevação do complemento directo), o verbo infinitivo que ocorre normalmente neste tipo de construções é antecedido pela preposição:

(3) [Este livro]i é fácil de ler [-]i.

No exemplo, o constituinte «este livro» desempenha o papel sintáctico de complemento directo da forma infinitiva «ler», mas desloca-se para ocupar a posição de sujeito da expressão finita «é fácil».

Nas seguintes frases não é necessária a presença da preposição de:

(4) É fácil fazer puré de maçã.
(5) Fazer puré de maçã é fácil.

Quer em (4) quer em (5), não se emprega de: «fazer puré de maçã» é sujeito de «é fácil», mas é também uma oração e, por isso, dispensa a preposição, mesmo que surja em posição pré-verbal, como acontece em (5).

Voltando, às frases (1) e (2), embora a construção seja diferente, o sentido das frases é praticamente o mesmo quer o constituinte «este livro» ocorra em posição de sujeito quer ocorra em posição de complemento directo da frase infinitiva: «Este livro é fácil de ler» ou «É fácil ler este livro».

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