DÚVIDAS

Divisão silábica de especialidade

Adquiri recentemente um livro com questões de concursos públicos realizados aqui no Brasil, e o gabarito de uma delas me deixou em dúvida:

«A alternativa que apresenta uma palavra do texto com separação de sílabas incorreta é:

a) pro-pri-e-tá-rios
b) es-pe-ci-a-li-da-de
c) vê-nia
d) con-se-qüên-cia
e) ce-re-bra-is»

O gabarito indica como resposta a letra "e". Mas não estaria incorreta a letra "b"? Afinal, a sílaba tônica em "especialidade" é "da", e portanto "ia" classifica-se como ditongo, diferente da palavra que lhe dá origem, "especial", e na divisão silábica não se separam ditongos.
E já vi em alguns livros alguns autores afirmando ser correta a divisão de ditongos crescentes finais, como em "sé-ri-e" ou "má-go-a", embora não aconselhado no português contemporâneo; o que não ocorre em "cerebrais", visto que o ditongo final da referida palavra é decrescente.
Está realmente certo o gabarito do livro?

Resposta

Com relação ao gabarito da prova, a letra e) está certamente incorrecta, trata-se de um ditongo decrescente oral que, conforme a regra, constitui a sílaba tónica da palavra e, neste exemplo, se origina na passagem para o plural do sufixo -al.

Quanto ao item especialidade, poderia ser analisado conforme o grupo dialectal a que pertencesse o falante que o emprega e não deveria, a meu ver, constituir questão de prova.

Parece-me que temos um ditongo crescente pretónico e, segundo os estudiosos de fonética e fonologia, pode haver variação de pronúncia em ditongos crescentes em formas que não apresentam o infixo -ion, como em estacionamento. Poderíamos ter, portanto, (i) a separação silábica tal como é apresentada na citação, como também (ii) a separação "es-pe-cia-li-da-de".

Segundo Aurélio Buarque de Holanda, a separação silábica deve seguir a soletração e não o étimo da palavra, ficando descartada a ancoragem no hiato do adjectivo especial que dá origem à palavra em questão. Além disso, tanto Thaïs Cristófaro Silva (Fonética e Fonologia do Português: Roteiro de Estudos e Guia de Exercícios. São Paulo: Contexto, 2003) como Dinah Callou e Yonne Leite (Iniciação à Fonética e à Fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000) marcam como obrigatória a ocorrência do ditongo crescente pretónico apenas quando a vogal que segue o glide é [o], o que não ocorre neste caso.

Assim, parece-me difícil argumentar com os possíveis responsáveis pela prova de que haveria duas respostas correctas possíveis para a questão. Nesses casos, e tratando-se de um concurso, é sempre melhor decorar as regras excludentes e optar pela resposta mais segura, ou seja, a que se justifica por uma regra clara e atestada e não suscita discussão.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa