Uma nota prévia: os dois termos que a consulente apresenta para contraponto não estão ao mesmo nível conceptual. A diferenciação deve ser estabelecida ou entre deíctico de referência situacional e deíctico de referência (co)textual, ou, mais simplesmente, entre deíctico indicial e deíctico textual.
Esta distinção é parte de uma tríade tipológica que ascende a Karl Bühler (1934)1.
Deixis indicial ou deixis exofórica: o deíctico aponta para o tempo, os espaços, os objectos e entidades da situação de enunciação; o deíctico aponta para uma evidência acessível ao locutor e alocutário:
«O que é que é isso que trazes aí?»
Deixis textual ou deixis endofórica: o deíctico aponta para um segmento de texto precedente (anáfora) (i) ou posterior (catáfora) (ii):
i) «O Zé não teve danos cerebrais. Isso mesmo foi confirmado pela TAC.»
ii) «O que se passou foi isto: O Zé estava a conversar muito bem e de repente desmaiou.»
Segundo Bühler, no que respeita à deixis textual, o conjunto dos signos que formam um texto na sua dimensão linear é concebido como uma espécie de espaço mental que apresenta certas analogias com o espaço mostrativo situacional. Também num texto há um «eu», que é o locutor, um «aqui», que é o lugar onde o locutor se situa em relação ao que já disse e ao que vai dizer, e um «agora», que, para cada signo, é o instante da sua emissão na cadeia falada. Bühler passa então da deixis situacional à deixis textual através de um raciocínio de analogia.
1 Bühler, K. (1934). Sprachtheorie: Die Darstellungsform der Sprache. Jena. Gustav Fischer.