Além da coordenação e da subordinação, há outras formas de classificar a relação estabelecida entre duas frases, que, tradicionalmente, não são estudadas na gramática portuguesa. Entre essas relações encontra-se a justaposição, que nada tem que ver com coordenação ou com subordinação. É outro tipo de relação, ou, por vezes, não chega a haver relação além da simples colocação lado a lado.
Para evitar confusões, não deveria associar-se o termo justaposição às situações de coordenação assindética. Vejamos as duas frases em apreço:
1. «Cheguei a casa, vi televisão, conversei com os meus pais e fui dormir.»
2. «A mãe chegou: a casa estava toda desarrumada.»
Em 1 temos uma sequência de acções separadas entre si por vírgula, menos na última, em que é explicitada a conjunção. É a situação prototípica da coordenação de diversas frases, que se faz por assindetismo, sendo este quebrado na última frase. As frases estabelecem uma relação de coordenação copulativa. As acções são sequenciais e cumulativas.
Em 2 temos duas frases cuja relação entre si não é, propriamente, de coordenação. A acção «chegar a casa» é uma acção pontual que se insere numa outra que já acontecia antes e que permanece. Não são coordenadas. Estruturalmente, poderíamos transformar estas duas frases numa frase coordenada, mas seria sempre marginal, além de, se optarmos pela coordenação copulativa, termos de fazer alteração no tempo verbal:
2.1. «A mãe chegou, e a casa está toda desarrumada.»
2.2. «A mãe chegou, mas a casa estava toda desarrumada.»
Além deste tipo de relação, poderíamos ainda criar uma relação de subordinação:
2.3. «Quando a mãe chegou, a casa estava toda desarrumada.»
Repare que, para estabelecer uma relação quer de subordinação quer de coordenação, a frase 2 teve de sofrer algumas alterações, além de termos, igualmente, dificuldade em identificar uma relação de sentido única.
Concluindo, em 1, estamos perante uma relação de coordenação. Em 2, as frases estão justapostas, veiculando sentido dessa forma. A relação que estabelecem é de justaposição, não estabelecida por conjunção, nem enquadrável na coordenação nem na subordinação. Tradicionalmente, nas gramáticas portuguesas, opta-se por não tratar sintacticamente estas frases. E, se tivermos em conta o Dicionário Terminológico, assim continuará, uma vez que a relação de justaposição não está prevista naquele documento.