A frase apresentada é complexa e inclui uma oração coordenada copulativa.
Como é sabido a coordenação pode tanto ser feita por meio de uma conjunção, que articula a oração que introduz com a anterior, como por meio de duas conjunções ou locuções, cada uma introduzindo uma oração, tendo a segunda conjunção a função de articular a segunda oração com a primeira. Nesta última situação, estamos perante um caso de coordenação correlativa, uma vez que os dois termos que introduzem cada uma das orações, o que significa que, como explicam Matos e Raposo, «embora estejam separados um do outro pelo primeiro termo, formam, na realidade, um único grupo semanticamente coeso; ou seja, constituem uma só conjunção ou locução, de natureza complexa»1.
As conjunções copulativas têm o valor de adicionar dois ou mais constituintes, como se observa na frase (1), na qual a conjunção e permite adicionar a situação de a «Rita escrever um texto» à de o «João ler um livro»:
(1) «Neste momento, o João lê um livro e a Rita escreve um texto.»
Este mesmo valor semântico pode ser ativado por conjunções correlativas como «nem…nem». Observe-se a frase (2):
(2) «Neste momento, nem o João lê um livro nem a Rita escreve um texto.»
Na frase (2), «nem… nem» acumula um valor de negação e de adição, uma vez que permite adicionar duas situações que não estão a ter lugar.
De igual modo, na frase apresentada pela consulente e aqui transcrita em (3), descreve-se um estado de coisas no qual duas situações não tiveram lugar, ou seja, a conjunção nem tem um valor copulativo:
(3) «Nem telefonaste nem apareceste.»
A frase (3) não permite uma leitura de coordenação disjuntiva (inclusiva), porque quando tal ocorre, isso significa que pode verificar-se apenas a situação A, a situação B ou ambas. Esta possibilidade é verificada pela compatibilidade da coordenação com a construção «as duas coisas». Veja-se como a frase (3a) não é compatível com esta estrutura ao contrário da frase (4):
(3a) «Nem telefonaste nem apareceste nem as duas coisas.»
(4) «Ou telefonas ou apareces ou as duas coisas.»
Veja-se como, na frase (4), a disjunção permita leitura de que se pode verificar apenas a situação de «telefonar», a de «aparecer» ou ambas. Esta leitura não é possível em (3a)
Em síntese, na frase (3), identificamos uma oração coordenada copulativa e a presença da conjunção correlativa copulativa «nem… nem».
Disponha sempre!
1. Matos e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1777-1778.
2. Idem, ibidem, p. 1796.