A consulente pretende saber se existe alguma correspondência entre os tempos do indicativo e os do conjuntivo quando, como no caso apresentado, alteramos uma frase declarativa com uma expressão modalizadora como oxalá ou queira Deus, para obtermos frases optativas, isto é, frases em se exprime um desejo ou um voto. A resposta é sim, em certa medida, muito embora essa correspondência não seja perfeita.
Segundo Teyssier (Manual de Língua Portuguesa, 1989, pág. 274), oxalá poderá ser usado em dois contextos temporais:
1. presente – «Não tenho ressentimento contra ele. Oxalá seja feliz!»
2. passado – «Não tinha ressentimento contra ele. Oxalá fosse feliz!»
No exemplo 1, temos o presente do conjuntivo, para exprimir um desejo presente que se projecta no futuro, enquanto no exemplo 2, ocorre o imperfeito do conjuntivo, porque se situa esse desejo no passado e a sua eventual realização num intervalo de tempo posterior, mas também passado.
É também possível usar oxalá com o pretérito perfeito e o mais-que-perfeito do conjuntivo, para indicar que o desejo se reporta a eventos encarados como já passados:
3. «Oxalá tenha tido essa sorte!»
4. «Oxalá tivesse tido essa sorte!»
A diferença entre 2 e 3 tem sobretudo que ver com o tempo do evento referido relativamente ao momento do discurso. No exemplo 3, o evento é localizado num passado recente, mas, no exemplo 4, essa localização é feita num passado mais distante. Em ambos os casos, a frase declarativa subjacente, sem valor optativo, será «teve sorte», uma vez que o pretérito perfeito do indicativo tem os dois valores temporais referidos. Contudo, no exemplo 4, o pretérito mais-que-perfeito pode reportar-se a um evento passado anterior a outro também passado. A adaptação do exemplo 2 como 5 torna mais claro este caso:
5. passado – «Não tinha ressentimento contra ele. Oxalá tivesse sido feliz!»
Em 5, o desejo associado à segunda frase («Oxalá tivesse sido feliz») projecta-se na possibilidade de um evento passado anterior à situação também passada que é referida na primeira frase («Não tinha ressentimento contra ele»). Significa isto que a frase declarativa correspondente a «Oxalá tivesse sido feliz!» é a do exemplo 6:
6. «Tinha sido/fora feliz.»
Sendo assim, é possível afirmar que certas frases declarativas com o verbo no mais-que-perfeito do indicativo podem ser transformadas em frases optativas introduzidas por oxalá e com o verbo no mais-que-perfeito do conjuntivo. A frase declarativa apresentada pelo consulente corresponde, portanto, a «oxalá (que) tivesse escurecido rapidamente».