Em português europeu, os clíticos, pronomes pessoais átonos, admitem as posições na frase de próclise, mesóclise e ênclise, embora esta última seja o padrão de colocação básico1. Nas frases que apresenta – (a) «Todos os anos a história se repete» e (b) «Todos os anos a história repete-se» –, a primeira (a) é a aceitável: o atrator de próclise todos, que é quantificador distributivo2 e que precede o hospedeiro verbal repete, obriga à próclise do clítico se.
1 «Ao contrário do português brasileiro, as formas clíticas não podem ocupar a posição inicial absoluta de frase», Ana Maria Brito et alii, "Tipologia e distribuição das expressões nominais", p. 849, em Gramática da Língua Portuguesa, Editorial Caminho, 2003.
2 Nem todos os quantificadores induzem próclise: «Quantificadores distributivos e grupais como todos, ambos e qualquer induzem próclise, contrariamente a cada, que a admite mas não exige; os quantificadores numerais, partitivos e de contagem não são proclisadores; quantificadores indefinidos e existenciais como um e algum são proclisadores, enquanto alguém e algo são; quantificadores generalizados como bastantes e poucos induzem a próclise, contrariamente a muitos, que a admite mas não exige.» Ana Maria Brito et alii, "Tipologia e distribuição das expressões nominais", p. 855, em Gramática da Língua Portuguesa, Editorial Caminho, 2003.