DÚVIDAS

Grau de doutora, mais uma vez

Sou funcionária numa instituição universitária e, como soube que, de acordo com o Ciberdúvidas, o correcto para as mulheres não é o grau de doutor, mas o de doutora, comuniquei isso a um colega que não tinha a certeza como se dizia em relação a uma doutorada. O resultado não foi o melhor, porquanto um membro do Conselho Directivo, cuja formação não é linguística, mas que telefonou a um professor da especialidade, disse que grau de doutora não passava de um disparate, porque grau é masculino.

O meu colega ainda argumentou que cargo também é masculino e, apesar disso, temos o cargo de ministra, mas foi reiterado o epíteto de disparate (para cargo de ministra) e dada indicação para proceder em conformidade. Assim, escreveu que determinada senhora obteve o grau de doutor.
Não sei se o argumento de que doutor concorda com grau foi dado pelo professor de linguística ao membro do Conselho Directivo ou se foi este que o inventou, pois o meu colega não quis falar mais no assunto. Seja como for, o que eu pergunto é se o referido argumento tem razão de ser.

Resposta

1. Uma mulher exerce a função de enfermeira. Um homem exerce a função de enfermeiro. Uma mulher obtém o grau de doutora. Um homem obtém o grau de doutor. O determinante não é a função nem o grau, mas quem os consegue.

O membro do seu Conselho Directivo quer que um homem exerça a função de enfermeira? Não quer certamente. Como pode pretender, então, que uma mulher receba o grau de doutor e não o de doutora? Mas atenção (e teria sido essa a opinião do linguista mencionado na pergunta): se está indeterminado o destinatário, deve prevalecer o masculino. Por exemplo, «a Universidade X concede o grau de doutor». Eis um dos motivos que levam críticos a afirmar: a gramática não é feminina...

A concordância faz-se com os substantivos grau e função quando não existe de. Por exemplo: função subalterna, grau académico. Um homem (ou uma mulher) exerce uma função subalterna. Uma mulher (ou um homem) obtém um grau académico.

2. A dúvida apresentada por Maria da Penha pode ser esclarecida nas Respostas Anteriores (ou nas Perguntas Repetidas). Volto ao assunto, todavia, porque verifiquei que os colunistas da imprensa portuguesa (alguns com licenciatura e, até, doutoramento em linguística), na sua maioria, empregam a concordância com um dos. Portanto, não teriam escrito a frase como a escrevi – «um dos graus que existem é o de doutora» –, mas como eles costumam escrever: «um dos graus que existe é...»

Admitida por Manuel Rodrigues Lapa, esta concordância não se pode considerar hoje inaceitável. Alguns dos seus defensores consideram-na mais estilística (enfática) do que gramatical. Mas, a exemplo de Rodrigo Sá Nogueira e outros estudiosos, entendo ser mais lógica a concordância que empreguei.

Vejamos: existem os graus A, B, C e D. Logo, o grau C é um dos que existem. Ou seja: entre os que existem, está o grau C. Cf. Grau de doutora, novamente e Função de subalterna.

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