A 1.ª edição (2001) do Dicionário Houaiss consigna boi-corneta como um regionalismo do Sul do Brasil, com os significados de «bovino a que falta um dos chifres ou que tem um deles aleijado» e, em sentido figurado e com uso pejorativo, «indivíduo intruso». Também o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo (São Paulo, Editora da Sé, 2004) acolhe a palavra, atribuindo-lhe aceções semelhantes: «boi de um só chifre» e «pessoa indisciplinada e encrenqueira».
Não se julgue que este composto se acha apenas em dicionários elaborados no Brasil. Encontramo-lo num dicionário de autor português – José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa –, sem indicação de que o uso de boi-corneta se restrinja ao português do Brasil ou a algum dos seus dialetos. Já o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa classifica este vocábulo como brasileirismo, mas apenas quando se refere a um tipo de boi; no sentido de «indivíduo indisciplinado, rixoso», não parece constituir brasileirismo. No vocabulário ortográfico do filólogo português Rebelo Gonçalves (Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966), igualmente se regista boi-corneta, com o significado de «indivíduo rixoso»; a este registo junta-se a observação de que «boi corneta», sem hífen, é o animal a que falta um dos chifres ou que é aleijado de um deles.
Em conclusão, não se pode dizer que boi-corneta seja claramente um brasileirismo em sentido estrito, ou seja, palavra conhecida e usada apenas no Brasil.