Só num artigo da Wikipédia encontro Hasmoneus; noutras fontes a palavra não tem h inicial. Na verdade, a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (Página Editora, 1998) regista Asmoneus, sem h, que é o mesmo que Asmoneanos, «nome por que se designa a família dos macabeus, originária de Asmon, a qual governou a Judéia durante um período de 126 anos» (mantive a ortografia do original). Estas formas são confirmadas por José Pedro Machado, que as regista no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa.
No Dicionário Houaiss, ocorre asmoniano, sem h e com o sufixo -iano, à semelhança de termos como açoriano e cabo-verdiano. A forma está correcta, na medida em que asmoniano deriva de Asmon e não da sequência asmone- deduzida de asmoneu.1 Estes termos usam-se como adjectivo e substantivo, admitindo contraste de género e flexão em número: asmoneu, asmoneia (como macabeia), asmoneus, asmoneias; asmoniano, asmoniana, asmonianos, asmonianas. Têm a seguinte definição: «relativo aos asmonianos, de cuja família descendem os macabeus, ou indivíduo desse grupo [Os macabeus obtiveram a liberdade religiosa para os judeus em 162 a. C.] [...]» (idem).
Quanto à maiúscula inicial em nomes como estes, em Portugal, neste momento ainda se aplica o que prevê a Base XXXIX do Acordo Ortográfico de 1945: «Os nomes de raças, povos ou populações, qualquer que seja a sua modalidade [...], escrevem-se todos com maiúscula inicial, por constituírem verdadeiras formas onomásticas. Exemplos: os Açorianos, os Americanos, os Brasileiros, os Cariocas, os Hispanos, os Lisboetas, os Louletanos, os Marcianos, os Mato-Grossenses, os Minhotos, os Murtoseiros, os Negros, os Portugueses, os Tupinambás [...].»1
A respeito do português brasileiro, o antigo Formulário Ortográfico de 1943 definia um critério diferente na Base XVI (2.ª, observação 2.ª): «Os nomes de povos escrevem-se com inicial minúscula, não só quando designam habitantes ou naturais de um estado, província, cidade, vila ou distrito, mas ainda quando representam coletivamente uma nação: amazonenses, baianos, estremenhos, fluminenses, guarapuavanos, jequíeenses, paulistas, pontalenses, romenos, russos, suíços, uruguaios, venezuelanos, etc.»
O Acordo Ortográfico de 1990, na sua Base XIX, parece omisso em relação a casos como estes. O mais que se pode ler é isto:
«Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.»
De qualquer maneira, é necessário clarificar o uso de maiúscula inicial em designações de grupos humanos de diferentes dimensões.
1 A forma "asmoneano" será admissível apenas pressupondo uma base de derivação terminada em e tónico, como nos casos a seguir descritos nos Dicionário Houaiss (s.v. -iano):
«[...] só se escreverá -eano quando a sílaba tônica do derivante for um -e- tônico ou ditongo tônico com base -e- ou, por fim, em que, mesmo átono, o -e- for seguido de vogal átona: arqueano (Arqueu) cuneano (Cuneo/Cúneo), daomeano (Daomé), egeano (Egeu), galileano (Galileu), lineano (Lineu); os demais serão sempre em -iano – acriano, camiliano, ciceroniano, eciano, freudiano, zwingliano etc. [...].»
Ora, se a Egeu, que termina em -eu, corresponde egeano, poderia pensar-se que a asmoneu, com a mesma terminação, deveria corresponder asmoneano. O problema é que existe uma palavra que é base de derivação das duas formas: Asmon. Sendo assim, segue-se o critério aplicado a substantivos e adjectivos derivados de nomes próprios acabados em -on, como Byron, que dá byroniano, e Washington, do qual resulta washingtoniano.
2 Na Base XXXIX do AO 1945, diz-se ainda: «Relativamente a todos estes nomes, note-se que é importante distinguir deles as formas que podem corresponder-lhes como nomes comuns e que, como tais, exigem o emprego da minúscula inicial: muitos americanos, quaisquer portugueses, todos os brasileiros [...]. Note-se ainda que os nomes de raças, povos ou populações mantêm a maiúscula inicial, quando empregados, por metonímia, no singular: o Brasileiro = os Brasileiros, o Mineiro = os Mineiros, o Minhoto = os Minhotos, o Negro = os Negros, o Português = os Portugueses, o Tupinambá = os Tupinambás.»