Muito frequentemente, há mais do que uma figura de estilo num só enunciado. Por isso, sempre que fizer este tipo de exercício, deverá analisar com atenção o discurso e relacioná-lo com as particularidades de cada recurso estilístico. Para além disso, a análise de um texto pressupõe subjetividade, o que implica que possa haver várias leituras sobre o mesmo. Portanto, não basta indicar as figuras de estilo de um texto, pois é preciso conseguir explicar o que o levou a retirar essas conclusões.
Da leitura que fizemos das frases indicadas, apercebemo-nos da presença de algumas figuras de estilo, de que se faz a seguinte síntese:
1. Relativamente à referência feita à possibilidade da presença de prolepse, não podemos deixar de assinalar que a prolepse é uma técnica da narrativa usada pelo narrador, em que é intencionalmente alterada a ordem dos acontecimentos, antecipando-se situações futuras. Não se trata, portanto, propriamente de uma figura de estilo.
Nessa frase, poder-se-ia pensar que estaríamos perante uma inversão ou anástrofe (alteração da ordem das palavras na frase) — em «uma criatura apenas humana» —, mas a verdade é que esse «apenas» está colocado antes de «humana», pois refere-se restritivamente a essa palavra, o que implica que essa é a sua posição lógica. Nessa expressão, o que se pode inferir é a presença de disfemismo (e de ironia), pelo facto de o narrador se referir à pessoa de que fala como «uma criatura apenas humana», transparecendo o olhar depreciativo face à expetativa que criara. Contrariamente ao elogio, perante o que vira, este narrador marca bem a desvalorização do objeto da sua observação: é uma criatura apenas humana, sem nada que a eleve a outro estatuto de distinção. Observa-se, também, nessa frase a aliteração (repetição se sons nasais muito idênticos: desapontamento tremendo) que conduzem à hipérbole em «um desapontamento tremendo» para evidenciar o que a personagem sofreu perante tal desilusão.
2. Nesta frase, verifica-se o recurso à adjetivação binária («grande e forte») e ternária («bela, forte e sã»), a inversão ou anástrofe (o sujeito — a Joaninha — está depois do predicado) e a metáfora (Joaninha = «planta da serra»).
3. Predomina, nesta frase, a sugestão visual e a da sensação do tato («roçava», «carícia», «muito de leve»), do que se retira a figura da sinestesia. Para além desta, verifica-se a presença do animismo («sol descia, roçava»).
4. A hipálage é a figura que se destaca (em «passo pensativo» e «manhã adorável»).
5. A presença da interrogação retórica («Hem?»), da sinestesia [sensação do tato («fresquinho, leve»), do olfato («aromático»), da audição («alegrador»)] e da adjetivação quaternária.
6. É evidente a anáfora (quatro vezes a palavra «mão»), a enumeração, a gradação (das qualidades) e o assíndeto.