Segundo o Dicionário de Termos Literários (Massaud Moisés, Editora Cultrix, 2002), entende-se aposiopese como «silêncio súbito, interrupção, reticências»; a referida obra acresenta ainda: «[C]onsiste na suspensão de um pensamento já iniciado, por meio de corte repentino na cadeia sintática. Espécie de anacoluto consciente, a aposiopese assinala o momento em que o escritor interrompe bruscamente a sequência das ideias, 1) ao perceber que vai adiantar raciocínios ou surpresas, 2) quando pretende dar ênfase às palavras, ou 3) quando se dá conta de que vai dizer mais do que deseja. No geral, a aposiopese evidencia-se, graficamente, pelas reticências, mas nem todo sinal suspensivo denota a presença deste recurso estilístico» (exemplo: «Esse homem era… esse homem era… esse homem tinha sido…», Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, 1844, ato II, cena XIV).
Por hipotipose, o mesmo dicionário considera que «ocorre quando, nas descrições, se pintam os fatos de que se fala como se o que se diz estivesse realmente diante dos olhos», juntando o seguinte esclarecimento: «[Trata-se de] uma figura em que concorrem a descrição e a narração no mesmo ato discursivo, guardando cada uma delas as suas características distintivas. Se no quadro pictórico o olhar capta de um só golpe os traços que representam a ação e a descrição, no texto literário, as frases indicativas do movimento narrativo, bem como os pormenores descritivos, podem ser captados na sua identidade própria, integrando o mesmo contexto verbal» (exemplo: «Lesta e loura, vejo-a subindo os patamares da entrada até o sítio da minha confusão. Traz um vestido claro e de meia manga, que à imaginação me parece transparente de tule, um elástico no braço a segurar. E quando chega ao pé de mim, tem uma cara fria branca assexuada. E uns olhos de minério azul», Vergílio Ferreira, Na Tua Face, 1993:32).
Relativamente à figura de estilo cleuasmo, o E-Dicionário de Termos Literários (Carlos Ceia) diz que é uma «figura de retórica pela qual um sujeito fala contra si mesmo, geralmente atribuindo a si próprio as qualidades negativas dos outros, ou, pelo contrário, atribui a outros as suas boas qualidades», dando como exemplo os seguintes versos de Álvaro de Campos, do poema Tabacaria: «Não sou nada./Nunca serei nada. Não posso querer ser nada./ (…)/ Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?/(…)/ Vivi, estudei, amei e até cri,/E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.»
Por fim, por paralipse, o Dicionário Houaiss (Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss/Objetiva, 2001) entende o mesmo que preterição, que é a «figura pela qual se finge não querer falar de coisas sobre as quais se está, indiretamente, falando». O Dicionário de Termos Literários de Massaud Moisés define ainda preterição como uma «figura de linguagem mediante a qual o orador ou poeta expressa francamente os termos de omissão que anuncia fazer no seu discurso ou poema, seja para efeito de ironia, seja de realce» (exemplo: «não, não quero lembrar a morte de seu pai…»).