Importa, em primeiro lugar, verificar a definição dada pelas gramáticas (desde as tradicionais de Cunha e Cintra às das novas terminologias linguísticas e ao Dicionário Terminológico) de nomescoletivos, para que possamos ter fontes onde nos basearmos. Sobre o que carateriza/define os nomes coletivos, retirámos o seguinte de cada uma delas:
— «os substantivos que, no singular, designam um conjunto de seres ou coisas da mesma espécie (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 178);
— «os nomes que remetem para um dado conjunto que são uma parte plural encarada como um elemento (companhia, rebanho, equipa...) (Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, pp. 233-234);
— «os nomes/substantivo que, na forma singular, faz referência a uma coleção ou conjunto de objetos, de pessoas, de animais e de coisas» (Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2009,pp. 115-116);
— «Nome que se aplica a um conjunto de objetos ou entidades do mesmo tipo» (Dicionário Terminológico).
Por sua vez, da pesquisa realizada em bibliografia específica sobre coletivos, encontrámos registo de alfabeto — [no Dicionário de Nomes Coletivos (Lisboa, Europa-América, 2006), de Fernanda Carrilho] e no capítulo XI, «Coletivos», de Nos Garimpos da Linguagem, de Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes, 1959) — e de esqueleto (Dicionário dos Nomes Coletivos, op. cit.).
Recorrendo aos dicionários, apercebemo-nos de que esqueleto é definido do seguinte modo: «conjunto de ossos do corpo dos vertebrados» (Dicionário Houaiss, 2009; «conjunto dos ossos e cartilagens que constituem a estrutura do corpo dos animais vertebrados e que serve de apoio aos músculos da locomoção = ossatura; conjunto dos traços gerais das grandes linhas de uma obra ou conjunto abstrato = espaço, esquema, plano» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001).
Tendo em conta a noção de conjunto do pressuposto inerente à classificação de nome coletivos, poderíamos enquadrar os dois termos — alfabeto e esqueleto — nos nomes coletivos, se não nos focarmos na particularidade de os coletivos se referirem a conjuntos «da mesma espécie», «do mesmo tipo». Esta é, portanto, uma questão delicada, o que nos levou a uma reflexão/troca de impressões por parte de alguns dos nossos consultores.
Repare-se que se, por um lado, um esqueleto é um conjunto de ossos, por outro lado, se tivermos 20 crânios, temos um conjunto de ossos, mas não temos um esqueleto.
Da mesma forma, se tivermos um conjunto/um grupo/uma lista de letras várias (A, C, K, J, E, R...), não podemos dizer que se trata de um alfabeto, porque este compreende todas as letras de um determinado código linguístico.
Esta situação não acontece com os coletivos: se tivermos 10 cães, independentemente da raça, ou do tamanho, estamos sempre perante uma matilha.
Por esta razão, consideramos que não devemos incluir esqueleto nem alfabeto nos nomes coletivos.