O tópico em questão é já do domínio dos estudos literários mais especializados.
Mesmo assim, sugere-se a leitura de um trabalho muito interesante do prof. Thomas F. Earle sobre este auto1, onde este especialista observa o seguinte:
«Lusitânia é filha do Sol e de Lisibea, ela própria o produto da união de um príncipe marítimo e de uma ‘rainha de Berbéria’, portanto, do norte da África. Segundo nos diz Graça Videira Lopes num artigo recente e, antes dela, também José Cardoso Bernardes, Lusitânia associa-se claramente com Lisboa e com o destino marítimo de Portugal. Portugal, porém, o seu pretendente, pertence à terra e à actividade varonil da caça.»
A simbologia das uniões amorosas das personagens em questão é, portanto, uma alegoria2 das origens do reino de Portugal.
1 Thomas Foster Earle, "DesafIos e novos camInhos nos estudos vIcentInos: o Auto da LusItânIa", Veredas 23, Santiago de Compostela, 2015, p. 153.
2 Transcreve-se a definição de alegoria do Dicionário Terminológico (recurso para apoio do estudo da língua nos ensinos básico e secundário em Portugal): «No seu significado etimológico, alegoria significa dizer uma coisa por outra, representando figurativamente um conceito ou uma abstracção (e, sob este ponto de vista, aproxima-se da personificação). Assim, a justiça é representada alegoricamente por uma mulher de olhos vendados que segura uma balança nas mãos, a paz é figurada por uma pomba, a crueldade por um tigre, etc. A alegoria apresenta um significado literal e um significado figurado, que são indissociáveis na interpretação, prolongando-se muitas vezes a alegoria como uma metáfora continuada que pode ocupar ou percorrer a totalidade de um texto mais ou menos extenso. O funcionamento da alegoria é fundamental na interpretação dos textos que representam e comunicam significados ocultos ou translatos de ordem religiosa, moral, política, etc.»