O que sugere não é impossível, mas neste momento é difícil de ser provado.
Dizer que o árabe não tem vogais parece-me um pouco confundir a grafia com a fonia, porque há de facto a pronúncia de vogais longas, notadas na escrita, e de vogais breves, que só são normalmente indicadas graficamente, por exemplo, em textos religiosos e no contexto escolar. Contudo, verifica-se realmente uma grande redução nas vogais breves, a qual em certos dialectos pode chegar à neutralização de /i/ e /u/ ou /a/ e /i/ como um "schwa", isto é, na terminologia tradicional uma vogal central fechada semelhante ao e mudo francês.
É plausível que o intenso contacto entre falantes românicos e falantes árabes no Centro e no Sul de Portugal tenha favorecido a redução do vocalismo átono do português europeu. No entanto, sabe-se que em galego havia ou ainda há uma certa tendência para fechar vogais em posição átona (o que não quer dizer que o fenómeno inverso não possa ocorrer). Por outro lado, os fenómenos de redução e neutralização vocálicas são por vezes mais de ordem tipológica do que genética, isto é, é possível encontrarem-se mais em línguas sem parentesco conhecido ou indirecto do que em línguas próximas. Por exemplo, o russo-padrão tem um fenómeno de neutralização vocálica, que lembra eventualmente processos semelhantes no árabe, no catalão central e (em certa medida) no português europeu; no entanto, há línguas e dialectos próximos dos exemplos mencionados sem tais fenómenos, como sejam o ucraniano e o catalão ocidental (com o valenciano).
Repito, a sua hipótese é atraente, mas requer um amplo estudo para o qual não parecem ainda existir as fontes adequadas.
Fonte: Kees Versteegh 2001. The Arabic Language, Edimburgo: Edinburgh University Press, págs. 157 e 166.