Confirmo as grafias actuais de Fão e Grão. Em relação aos nomes próprios de origem hebraica, as formas terminadas em -am são de facto incorrectas na perspectiva das convenções ortográficas ainda vigentes nos países de língua portuguesa e do novo Acordo Ortográfico. Quanto à opção por -ã e -ão, muito depende da história da transmissão desses nomes e da grafia que lhes foi fixada.
Assim, em Portugal, é tradição adaptar como -ão os nomes que noutras línguas terminam em -an ou -on (incluindo a terminação -anem e -onem do acusativo latino) ou que assim são transcritos (Tamerlan > Tamerlão; Iran > Irão); mas há excepções: Leviatã, que já teve a variante "Leviatão"; Pã, que já alternou com "Pão". Se um nome estrangeiro (incluindo o latim) termina em -am, a tendência é a de o aportuguesamento também ser -ão, mas há excepções como Vietname. No Brasil, verifica-se a tendência para adaptar algumas destas terminações como -ã: Irã, Vietnã.
Note-se, de qualquer modo, que é muito provável que, desde muito cedo na história da língua portuguesa, a antiga terminação gráfica -am dos substantivos e adjectivos fosse pronunciada como ditongo nasal (/ão/, na transcrição do consulente).
Em relação aos nomes das figuras bíblicas em apreço, escrevem-se do seguinte modo, pelo menos em português europeu (cf. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa e Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa):
Cão: filho de Noé; do latim Cham, adaptação do hebraico hām, «quente».
Arão ou Aarão: irmão de Moisés; do latim Arŏn, talvez de origem hebraica.
Adonirão e Adurão: Machado apresenta a forma Adonira, a que atribui origem hebraica, seguindo Antenor Nascentes, embora assinale reservas quanto à correcção da forma proposta — adonirm, «o senhor elevado»; o Dicionário Bíblico (Porto e Lisboa: Editorial Perpétuo Socorro e Difusora Bíblica, 1989) regista a forma Adoniram e Adoram, que julgo tratar-se de grafias antiquadas, não conformes às convenções ortográficas actuais e que devem ser escritas com -ão.
"Anão": a forma recomendada parece-me ser Hanão, equivalente ao latim Hannō, -ōnis.
Mesolão: não encontro registo desta forma ou de formas aproximadas ("Mesolam", "Mesolã") nas obras consultadas.
Naamão: Machado regista Naaman, cuja origem é o latim Naaman, «este de vocábulo hebraico que significa «beleza, alegria»; no entanto, não compreendo por que razão a grafia deste nome não segue a regra geral, que é a de passar a terminação -an a -ão, se tal grafia corresponder a parte de um sílaba tónica final; confirmo por isso que Naamão é a forma mais adequada.
Neste momento, não sei se as grafias indicadas são válidas no português do Brasil. É possível que, em vista das soluções Vietnã e Irã, as grafias com -ã sejam também legítimas.