Para analisar a expressão «abrir alas», embora tenha uma utilização fixa, importa ter em conta a regência exigida pelo verbo «abrir» que, na longa descrição dos dicionários, ocorre, também, como transitivo direto e indireto e intransitivo.
Analisemos as frases em apreço, que se repetem numeradas, e com ordem diversa:
(1) «A temperatura estival parecia abrir alas à multidão de pessoas que se aglomerou no Palácio de Cristal.»
(2) «A temperatura estival parecia abrir alas para a multidão de pessoas que se aglomerou no Palácio de Cristal.»
Ambas as frases são corretas e ambas veiculam o mesmo sentido.
Do ponto de vista sintático, na frase (1) temos:
Sujeito – A temperatura estival
Predicado – parecia abrir alas à multidão de pessoas que se aglomerou no Palácio de Cristal.
Verbo composto que modaliza a mensagem – parecia abrir
C. direto – alas
C indireto – à multidão de pessoas que se aglomerou no Palácio de Cristal.
Nota: por não ser relevante para o tema em análise, não vamos desdobrar os sintagmas nominais, pelo que se não faz a análise da frase relativa «que se aglomerou no Palácio de Cristal.»
Para muitos, a frase (2) tem uma estrutura igual à frase (1), com a diferença de que o C. indireto é introduzido pela preposição para.
Porém, muitos investigadores não aceitam a classificação de um sintagma iniciado preposição para como complemento indireto, preferindo classificá-lo como complemento oblíquo (ou, para alguns, preposicional), apesar do sentido veiculado.
A expressão abrir alas pode surgir também em construções nas quais o verbo surgir é intransitivo, como se ilustra em (3).
(3) «Abram alas para a procissão passar.»
Nesta frase, para a procissão passar é uma oração subordinada adverbial final, sendo «Abram alas» a subordinante.
Tendo em conta o referido, poderemos dizer que (1) e (2) são frases bem elaboradas em português, podendo, no entanto, haver diferentes formas de as analisar do ponto de vista sintático.