DÚVIDAS

A redundância «exéquias fúnebres»

Num recente programa do Biography (acerca da carreira profissional da juíza O´Connor) tivemos ensejo de nos depararmos com a expressão «exéquias fúnebres» (do presidente R. Reagan).

Pergunto: não será o mesmo que «subir para cima», «avançar para a frente», «recuar para trás», e assim por diante?

Não cuidou o locutor em que o uso pleonástico apenas se admite como recurso literário de ênfase (e em condições bastante condicionadas)?

Não acredito pelo que tenho vindo a apreciar: o fulano saiu completamente analfabeto na medida em que, desta vez, manifesta ser-lhe completamente desconhecido o significado de exéquias (cerimónia religiosa fúnebre).

Resposta

Tem razão o consulente. De facto, não existem exéquias que não sejam fúnebres. Trata-se de um tipo de pleonasmo que na Nova Gramática do Português Contempâneo de Celso Cunha e Lindley Cintra é considerado um erro grave. Na página 618, dizem os autores sobre o uso do pleonasmo: «Quando nada acrescenta à força da expressão, quando resulta apenas da ignorância do sentido exacto dos termos empregados, ou de negligência, é uma falta grosseira». E apontam alguns exemplos: «Fazer uma breve alocução», «Ter o monopólio exclusivo», «Ser o principal protagonista».

A estes exemplos poderíamos, com propriedade, acrescentar o referido pelo consulente: «exéquias fúnebres». Porém, a sequência «exéquias fúnebres» não é incomum. Numa pesquisa no corpus CETEMPúblico, disponibilizado pela Linguateca, verificamos que há 162 ocorrências da palavra exéquias, sendo que em 8 delas observamos a sequência «exéquias fúnebres». Não sendo um número elevado, não é também despiciendo, uma vez que representa 5% das ocorrências do termo exéquias neste corpus.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa