Em português europeu, tudo depende do que se considera o padrão de pronúncia de cada uma das palavras apontadas. Isto significa que certas pronúncias ficarão excluídas da nova ortografia, mesmo que em Portugal elas possam ser significativas ao nível de certos grupos sociais ou de certos falares regionais que não constituem a base da norma europeia.
Consultando o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (DLPC), e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (GDLP), verifica-se que há certa convergência na transcrição da pronúncia-padrão das palavras em referência1:
olfacto: [ɔɫ`faktu] (DLPC), [ɔɫ`fatu] (GDLP)
peremptório: [pɨɾẽ`tɔɾju] (DLPC), [pəɾẽ`tɔɾju] (GDLP)
dicção: [di`ksãw] (DLPC), [di`ksãw] (GDLP)
carácter: [kɐ`ɾaktɛɾ] (DLPC), [kɐ`ɾa(k)tɛɾ] (GDLP)
caracteres: [kɐɾɐ`tɛɾɨʃ] (DLPC)
Note-se, contudo, que os dicionários em referência divergem quanto à pronúncia de olfacto. Além disso, mostram-se hesitantes relativamente a carácter: no DLPC, o singular carácter tem [k] antes da sílaba -ter, mas no plural caracteres, esse som desaparece; no GDLP, vemos que é opcional a pronúncia com [k]: cará[k]ter.
Concluo que, ao aplicar as novas regras a olfacto e carácter, ou se aceita a dupla grafia (olfacto/olfato e carácter/caráter) devido às mencionadas oscilações fónicas, ou será necessário decidir qual das pronúncias é a mais correcta para depois estabelecer a grafia adequada.
1 Não foi possível reproduzir com fidelidade a marcação de acento tónico e o ditongo nasal das transcrições fonéticas das fontes consultadas. Assim, optou-se por um ` a preceder a sílaba tónica e por [ãw] para representar o ditongo nasal que ocorre, por exemplo, em cão.