No falar lisboeta, que em Portugal se toma frequentemente como padrão de pronúncia, tende-se a pronunciar "nacher"/"nache" e "crecher"/"creche". Estes verbos em -scer deveriam soar "-chcer", ou seja, "nachcer" e "crechcer", correspondendo à letra s o primeiro segmento que se ouve atualmente na palavra chão, e à letra c, o mesmo som sibilante que começa a palavra só. Acontece que, embora muita gente se esforce por pronunciá-la, tal sequência é de difícil articulação, e daí a simplificação num único som – como se disse, o ch de chão: "nacher", "crecher".
Noutros dialetos de Portugal, como é o caso do da consulente, e nos falares do Brasil, o som que se associa à letra s de nascer e crescer não ficou chiado, isto é, não passou ao que se ouve no início de chão, antes se mantendo como som sibilante– o "s" de só. Além disso, registou-se uma simplificação da sequência -sc-, que se resolveu não pelo som representado por ch, mas, sim, por uma única sibilante (mais uma vez, a do s de só ou do c de cedo) – daí, "nacer"/"nace" e "crecer"/"crece".
Enfim, apesar da pronúncia, todos os falantes de português devem escrever nascer. Mas, quanto à variação fónica, não julguem os que falam "à moda de Lisboa" que têm melhor pronúncia que os que dela divergem. Na verdade, até seria bom que todos na área de Lisboa – ou em qualquer lugar onde se fale português – tivessem maior respeito pelas maneiras tradicionais de pronunciar as palavras que são características de outras regiões, porque, pelo menos histórica e culturalmente, elas se revelam tão legítimas como as do padrão.