No Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, publicado em 2003, a transcrição fonética relativa à grafia jacto indica que o c é mudo: [Ʒatu]. No entanto, é verdade que o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, publicado em 2001, apresenta uma transcrição em que a letra é pronunciada: [Ʒaktu]. Quem tem razão?
Se consultarmos o Vocabulário da Língua Portuguesa, da autoria de Rebelo Gonçalves e publicado em 1966, há indicação de que se pronuncia um [k] na entrada de jacto. Isto explica o estipulado na resposta em causa, que é afinal o conteúdo do segundo parágrafo da Base VI do Acordo Ortográfico de 1945, que vigorou apenas em Portugal; diz assim (sublinhado meu):
«2.° Conservam-se não apenas nos casos em que são invariavelmente proferidos (compacto, convicção, convicto, ficção, fricção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto; etc.), mas também naqueles em que só se proferem em Portugal ou só no Brasil, quer geral, quer restritamente: cacto (c interior geralmente proferido no Brasil e mudo em Portugal), caracteres (c interior em condições idênticas), coarctar, contacto, dicção, facto (c geralmente proferido em Portugal e mudo no Brasil), jacto, perfunctório, revindicta, tactear, tacto, tecto (c por vezes proferido no Brasil); assumptível, assumptivo, ceptro, consumpção, consumptível, consumptivo, corrupção, corruptela, corrupto, corruptor, peremptório (p interior geralmente proferido no Brasil, mas predominantemente mudo em Portugal), sumptuário, sumptuoso;»
A inclusão de jacto nesta passagem só faz sentido se o [k] é pronunciado num dos dois países. Ora, sabe-se que no Brasil existem jacto e jato, mas é jato a forma preferida (cf. Dicionário Houaiss); depreende-se, então, que jacto seria em 1945, para os redactores do texto do Acordo de 1945, a grafia adeqada à pronúncia portuguesa.
Apesar disso, creio, e o Grande Dicionário, da Porto Editora, confirma esta minha impressão, que a pronúncia mais corrente em Portugal não tem [k]. Deste modo, concluo que em Portugal há hoje duas pronúncias da forma jacto: por um lado, [Ʒaktu], isto é, a que Rebelo Gonçalves fixou, e o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa parece consagrar; por outro lado, [Ʒatu], a que é sem dúvida mais corrente em Portugal.