No dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, o substantivo comum feiteira aparece transcrito como [fɛˈtɐjɾɐ], isto é, com e aberto na primeira sílaba, que é átona. Também o seu sinónimo fetal, terreno onde crescem abundantemente plantas designadas por fetos» (idem), apresenta e aberto na sílaba átona representada por fe-. Tendo em conta que estas palavras aparecem descritas como derivados de feto, «design. comum a todas as pteridófitas da classe das filicópsidas» (Dicionário Houaiss), seria de esperar que, em português europeu, a vogal da sílaba fe- recuasse e se elevasse (isto é, fechasse, como se diz popularmente), soando a vogal como e mudo (o e de de). Mas é possível que nestes casos tenham intervindo outras razões1, conservando os derivados o e aberto da palavra base.
1 Por exemplo, razões históricas. O e átono pode dever a sua abertura ao facto de remontar à crase das vogais de duas sílabas átonas: feeteira > feteira. É o que ocorre de modo semelhante em caveira, que apresenta a aberto átono em resultado da crase de dois aa átonos em hiato: caaveira > caveira. No entanto, esta etimologia não é confirmada nem pelo dicionário da Academia das Ciências de Lisboa nem pelo Dicionário Houaiss. No caso de fetal, pode também ter intervindo uma necessidade distintiva, permitindo o contraste com fetal, «relativo a feto», muito embora o contexto de fetal, «terreno onde há fetos», não me pareça susceptível de suscitar confusões com o da sua homógrafa.