Em Portugal, a pronúncia de dezoito com o aberto ("dezóito"), considerada como a da língua-padrão1, é vista como a evolução da forma "dezaoito" (ainda hoje existente no galego normativo). Sobre a história de dezoito e a variação da sua pronúncia, diz Leite de Vasconcelos (Lições de Filologia Portuguesa, Lisboa, Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1926, pág. 296; manteve-se a ortografia original):
«[...] Dezóito tem ói (ao passo que oito tem normalmente ô), porque resulta das formas arcaicas dezooito < dezaoito; esta última é paralela a dezanove, dezasete, e dezaseis. Em alguns sítios, por exemplo, em Vila-Real de Trás-os-Montes, diz-se dezôito, com ô, por influência do de ôito, que também aí se usa.»
Note-se igualmente que, já desde o século XIX, se regista não só a forma com o fechado, "dezôito", mas também a forma "óito", com o aberto, geralmente atribuindo-se ambas as formas aos falares do Norte de Portugal (cf. Gonçalves Viana, "Materiais para o estudo dos dialectos portugueses", Revista Lusitana, vol. I, 210).
Sobre o favor que a forma "dezôito" tem na tradição normativa portuguesa, refira-se que Vasco Botelho de Amaral, no Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, pág. 1122), era perentório, quando escrevia: «Dezoito. Lê-se com ói aberto: dezóito, e não dezôito [...].» No entanto, ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1945 (AO), não obstante o critério2de apor acento agudo sobre o ditongo aberto ói em palavras graves como heróico, aceitava-se não haver pronúncia uniforme para dezoito, razão por que a palavra não recebia acento gráfico (Base XVI): «Por [...] falta de pronúncia uniforme, dispensa-se [...] o acento agudo no ditongo ei da terminação eico e no ditongo oi de algumas palavras paroxítonas: coreico, epopeico, onomatopeico; comboio (todavia combóio, como flexão de comboiar), dezoito.» Acrescente-se ainda que o filólogo português Rebelo Gonçalves, membro da delegação que representou Portugal nas negociações conducentes ao AO 45, considerava que no português de Portugal havia duas pronúncias ("dezóito" e "dezôito") e uma só brasileira ("dezôito"), conforme se pode ler no seu Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (Coimbra, Atlântida, 1947, pág. 158, n. 7). Em décadas mais recentes, alguns dicionários publicados em Portugal têm aceitado a pronúncia "dezôito", como sejam o Dicionário de Português Básico (Porto Editora, 2009), de Mário Vilela (Porto Editora, e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora, 2009).
Em suma, recomenda-se a pronúncia "dezóito", mas não se pode considerar incorreta a forma "dezôito", tida como variante regional portuguesa. Recorde-se, por último, que, no português do Brasil, dezoito tem sempre o fechado: "dezôito".
1 Cf. António Emiliano, Fonética do Português Europeu - Descrição e Transcrição, Lisboa, Guimarães Editores, 2009, pág. 227.
2Este critério foi suprimida pelo Acordo Ortográfico de 1990, pelo que passa a escrever-se heroico, conforme o que a Base IX, 3.º: «Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica das palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a abertura na sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia, boia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina.
3 No Brasil, usam-se as formas dezesseis, dezessete, dezenove, como aglutinação das expressões «dez e seis», «dez e sete», «dez e nove». Em Portugal, as formas dezasseis, dezassete e dezanove devem-se a configurações diferentes, em que intervém o latim ac («decem ac sex», «decem ac septem», «decem ac novem»).