O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa transcreve a palavra cronograma com vogais abertas nas sílabas cro- e -no-, ou seja, com ós abertos: [kɾɔnɔgɾɐmɐ]. No entanto, não me parece incorrecto aplicar à palavra em questão a regra do vocalismo átono do português europeu e fechar as vogais de co- e -no-, pronunciando [kɾunugrgɾɐmɐ]. Estas oscilações têm realmente que ver com o facto de se tratar de compostos eruditos, cujos elementos constituintes podem ou não manter alguma autonomia e acentuação próprias. No caso de cronograma, é possível a crono- escapar à regra do vocalismo átono, visto o radical manter certa autonomia. Já cronologia parece ter-se consolidado definitavamente como uma palavra única (lexicalização) e, como tal, fica submetida à referida regra.
Cabe, porém, fazer aqui um reparo. Quando a consulente fala em acentuar as duas primeiras sílabas de cronograma deve estar a pressupor que, geralmente, em português europeu, as vogais são abertas em posição tónica. Logo — terá ela pensado—, se as vogais das sílabas cro- e -no- são abertas é porque estão em sílabas acentuadas. Nada disso. Por um lado, a sílaba tónica de cronograma é -gra-, e o mais que se pode dizer acerca das outras sílabas é que há um acento secundário em cro-. Por outro, em português europeu, há vogais abertas em sílaba átona, em posição pretónica: basta lembrar padeira, somente, capturar, todas palavras com vogais abertas átonas na primeira sílaba a contar da esquerda, e cafezinho, com é aberto na sílaba -fe-. Não se deve, portanto, confundir vogal aberta com a posição do acento principal na palavra.