Errada não está, porque Rebelo Gonçalves, no Vocabulário da Língua Portuguesa (1967), indica realmente que o o do radical de soltar é aberto na primeira, segunda e terceira pessoas do singular do presente do indicativo e na segunda pessoa do singular do imperativo: s[ó]lto, s[ó]ltas, s[ó]lta.
Mas a verdade é que a minha intuição de falante lisboeta me diz que as referidas formas do verbo soltar têm o fechado (s[ô]lto, s[ô]ltas, s[ô]ltas), enquanto as do verbo voltar o têm aberto (v[ó]lto, v[ó]ltas, v[ó]ltas). Noto também que em dois dicionários relativamente recentes do português europeu se apontam diferenças entre soltar e voltar no que respeita à pronúncia do o da primeira sílaba na forma de referência, que é o infinitivo. Assim:
a) o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa transcreve voltar com o aberto (transcrição fonética: [vɔɫtaɾ]), mas soltar é transcrito com o fechado ([soɫtaɾ]);
b) no Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, são atribuídas a voltar duas transcrições, com o aberto e com o fechado, enquanto soltar só tem transcrição com o fechado.
Considero, portanto, que o grau de abertura da vogal do radical de soltar não tem uma relação de analogia com o de voltar, nem se pode dizer que o tónico seguido de l a fechar sílaba esteja sujeito a alternância vocálica, ou seja, à eventualidade de um o fechado no infinitivo se tornar aberto em formas que têm acento tónico na vogal do radical (rizotónicas). Sugiro antes que a flexão dos dois verbos em questão se sujeita a relações analógicas diferentes: na flexão de soltar exerce-se a analogia com o particípio passado solto, com o fechado; no caso de voltar, as formas rizotónicas têm o aberto, porque é o que acontece às formas flexionadas de verbos que têm um o nessa posição (morar: m[ó]ro, m[ó]ras, m[ó]ras), ao mesmo tempo que se estabelece uma analogia com o substantivo volta, que tem o aberto.