Nos três últimos versos é evidente a presença de oxímoros, figura de retórica que se carateriza como «expressão sintética do paradoxo intelectual, o que o torna propício ao brilho de jogos conceptuais» [Dicionário de Literatura, de Jacinto do Prado Coelho (dir.) e Biblos, Enciclopédia das Literaturas de Língua Portuguesa (Lisboa/São Paulo, Verbo, 1999)].
Apesar de ser frequente o uso do termo filosófico paradoxo, a realidade é que não figura em muitas das obras específicas sobre literatura.
Se tivermos em conta o conteúdo desses versos, de revelação do desconcerto interior do sujeito poético, desconcerto esse que é verbalizado através do jogo de palavras e de construções antagónicas e paradoxais, não temos dúvida de que nos encontramos perante casos de oxímoros. Repare-se que o sujeito poético, por ter consciência do seu estado desconcertado, fruto do poder transfigurador do amor (da presença da amada), apercebe-se de que é capaz «de [lhe] revelar tudo sobre o amor», mas logo vê que «pouco ou nada se revela», o que o deixa «extático, mudo». Ora, essas são as manifestações do estado de amor perfeito (tão difundido pelos renascentistas). Assim, é evidente a construção intencional de oxímoros por este sujeito lírico, cujo «interesse é chamar a atenção para uma verdade profunda em que os conceitos vulgares perdem a sua nitidez e é possível uma conciliação de contrários» (Dicionário de Literatura, ob. cit.).
Destaca-se, também, a presença da anáfora («fico extático, fico mudo»), enfatizando o êxtase perante a amada que o impede de reagir. Naturalmente, a hipérbole atravessa todos estes versos.