DÚVIDAS

A preposição por com orações de infinitivo

A frase acerca da qual tenho dúvidas é de A Palavra Mágica, de Vergílio Ferreira:
«Quando o Rainha deu um tiro de caçadeira, num dia de arraial, ao homem da amante, chamaram-lhe, evidentemente, "inoque", por ser um devasso e um assassino de caçadeira.»
"Que fazer" a «por ser um devasso e um assassino de caçadeira»? Será complemento circunstancial de causa? Oração subordinada causal? Oração subordinada infinitiva?
Há quem diga que não pode haver C. C. de causa numa frase complexa; há quem diga que a preposição «por» tira o valor de predicado ao verbo «ser», pelo que não será subordinada infinitiva. Pela mesma e razão e, mais, por não haver conjunção, também não é subordinada causal.
Contudo, segundo uma gramática, a expressão em causa não tem conjunção e, como tem uma preposição precedida do predicado, vai dar a esta expressão o valor de uma oração subordinada infinitiva.
Desde já os melhores cumprimentos e agradecimentos.

Resposta

A preposição por, como outras, tem, em alguns casos, um valor que a aproxima das conjunções, pois introduz frases, ou orações, subordinadas infinitivas. Na expressão «por ser um devasso e um assassino de caçadeira», a preposição introduz uma frase subordinada infinitiva, cujo sentido é causal, ou, talvez melhor, explicativo.
Note-se, aliás, que podemos considerar que na expressão não existe apenas uma frase infinitiva, mas duas, estando, na segunda, omitido o verbo e também a preposição: «por ser um devasso e por ser um assassino de caçadeira». Esta interpretação justifica o facto de, contrariamente ao que é mais comum, a conjunção copulativa estar a relacionar elementos com valor semântico distinto como devasso e assassino.

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